Socialismo ou morte (2)
Nada mais chocante do que ver alguns intelectuais que ganharam fama e fortuna em regimes capitalistas virem a terreiro defender o demencial brado “socialismo ou morte” que Castro impôs ao seu povo. Entre eles, os prémios Nobel Dario Fo, Nadine Gordimer, Wole Soyinka e o inevitável José Saramago, preocupados com “a ameaça crescente contra a integridade” de Cuba, confundindo a nação de José Martí com o decrépito regime e o homem que o pastoreia. Quem nunca levantou um dedo contra as atrocidades cometidas em Havana vem agora em socorro do último ditador do hemisfério ocidental, vítima não de nenhuma “agressão dos Estados Unidos”, como os peticionários referem neste abaixo-assinado promovido pelo ministério cubano da Cultura, mas da inapelável lei da biologia que condena todos os seres humanos à morte física, sem exceptuar os déspotas.
Noam Chomsky, Oscar Niemeyer, Ignacio Ramonet, Alfonso Sastre, Luis Sepúlveda, João Ubaldo Ribeiro e Walter Salles também assinam este documento, de uma pobreza conceptual confrangedora e de um impressionante sectarismo ideológico. A tal ponto que nem Gabriel García Márquez, velho compagnon de route de Castro, o subscreve. Única nota positiva: entre os portugueses, apenas três assinaturas – a de Saramago e dos camaradas Boaventura Sousa Santos e Miguel Urbano Rodrigues, este último aliás residente em Cuba, numa louvável demonstração de coerência. Estivéssemos nos anos 80 e em vez de três haveria trezentos, o que é um inequívoco sinal de esperança. Apesar de tudo, até os intelectuais da nossa esquerda orgânica sabem interpretar os sinais do tempo.