Se a minha avó tivesse rodas… (crónica)
Rui Tavares no seu curioso “Pequeno Livro do Grande Terramoto”, confronta as teses “deterministas” com as “pirronistas” (ou cépticas) e faz até alguns inconsequentes exercícios teóricos “do que teria sido” se “não tivesse acontecido”. Até põe a fictícia “Amália” a passear pela baixa “medieval” que existiria no séc. XXI se não fosse o Terramoto. E o que seria do Conde de Oeiras se não fosse o fatal evento?
Não sou historiador, mas prossigo atentamente a história do meu lugar e do nosso mundo com curiosidade. Atribuo em parte este gosto a uma necessidade de “aconchego existencial”. E também porque assim vou percebendo cada vez melhor a vida e o presente que me cabe em sorte.
Nestas minhas saborosas férias, já quase liberto das agitadas rotinas urbanas e laborais, intervalo os mornos banhos de mar salgado e mergulho na prometida "bibliografia balnear". Por ora não quero mais saber dos incêndios, da política nacional e sinto asco à malfadada guerra no Líbano.
Ao invés, com as minhas leituras, uma vez mais me "angustio" com a crueldade da arbitrária história e o assassinato de D. Carlos e de D. Luís Filipe, com a decadência das “elites” nacionais, com o “Deus dará” das patéticas e inconsequentes incursões monárquicas.
E, pegando nos exercícios lúdicos de Rui Tavares invento o seguinte cenário: D. Carlos e D. Luís Filipe escapavam ao brutal atentado de 1 de Fevereiro de 1908 no Terreiro do Paço… E com uma liderança efectiva da coroa não teria havido lugar à emergência da canalha jacobina no 5 de Outubro. Teria sido posteriormente, já com D. Luís Filipe, a monarquia constitucional devidamente modernizada, a exemplo do que se passava com os restantes estados europeus? Acredito que sim.
E depois, duas questões oportunas: neste quadro, sem o caos da 1ª república, o que é que justificava Oliveira Salazar? E assim importávamos uma guerra civil de Espanha? E os projectos coloniais para Angola de Henrique Paiva Couceiro teriam lugar?
Que "bater de asa" de uma qualquer borboleta na China nos teria desviado de tantos fados a que temos sobrevivido?
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