O ópio revisitado
Às vezes, é bom não ter auto-estima. Quando um dos nossos jogadores se comporta de modo vergonhoso, como o João Pinto no Mundial da Coreia, é merecidamente zurzido por cá e, fora meia dúzia de fanáticos, ninguém anda a justificar a boçalidade da atitude. Entretanto, na civilizada Inglaterra, a patada do Rooney no Ricardo Carvalho é vista com benevolência e atribuem a culpa da expulsão às palavras do Ronaldo, confirmando-o cientificamente com a posterior piscadela de olho... É incrível até que ponto o nacionalismo cego pode ser ridículo.Também na civilizada França, o coitadinho do Zidane não teve culpa nenhuma, o italiano é que foi mau e disse-lhe palavras feias. Se lessem os lábios a todos os jogadores de futebol e eles fossem punidos por isso, não sobrava um em campo. Qualquer pessoa que, como eu, na minha longínqua infância e juventude, jogou à bola, sabe que até entre irmãos se trocavam uns bons insultos, prontamente esquecidos mal aquilo acabava. Ridículo supremo foi ver uma série de comentadores portugueses, que se julgam muito politicamente incorrectos, andar a justificar a estupidez da cabeçada do Zidane (que, está fora de causa, foi um extraordinário jogador), como se isso tivesse sido mais um sinal da sua genialidade. Afinal, a nossa lamentada falta de auto-estima pode por vezes ser boa.