Fora do tempo estamos nós
Ao ler uma Carta ao Director hoje no Público achei-a do mais pungente que tenho visto pelo contraste entre dois mundos, dois géneros de valores, dois - como lhes chamaria Carrilho - paradigmas.
Francisco Pelejão Camejo é professor de História no Instituto Militar dos Pupilos do Exército. Há anos sob a ameaça do encerramento, salvos apenas pelas iniciativas de pressão dos seus ex-alunos e pais, os Pupilos têm de facto (como escreve no título o autor) «morte anunciada».
Francisco Camejo fala de «espírito de corpo, entreajuda, solidariedade, disciplina, trabalho e método». Do hino. Da virtude no sentido que davam os gregos à palavra. E, ao lê-lo, parece-me ler uma missiva recuperada de entre a poeira numas quaisquer ruínas, onde o vento arrasta vozes de batalhas antigas e o chão cor de ferrugem lembra o sangue que o permeou.
Que lugar existe hoje para valores como estes? E que leitura faz deles a nossa «sociedade civil»? Para que serve o espírito de corpo e a solidariedade, face a um ensino secundário e superior que defende a lei do mais forte e do salve-se quem puder? Que castiga a disciplina e a ordem? Que advoga o poder do discente sobre o docente?
Os Pupilos estão fora do seu tempo, talvez. Mas o tempo continua a ser cíclico como sempre o foi. E um dia vamos precisar de valores como estes. De pessoas formadas assim. E elas não estarão lá para nos ajudar.