Um português diferente dos outros (1)
Um livro: Um Herói Português - Henrique Paiva Couceiro (Vasco Pulido Valente, Alêtheia Editores, Lisboa, 2006).
É, sem dúvida, um dos acontecimentos editoriais do ano. Vasco Pulido Valente regressa a um dos géneros que o notabilizou, a biografia, para recordar a figura singular de Henrique Mitchell de Paiva Couceiro (1861-1944), um militar que “pela força de carácter e pela violência da fé impressionou gerações de portugueses”. Foi um homem de convicções, que preferia quebrar a torcer: católico, conservador, condottiero monárquico durante a I República, opositor de Salazar no Estado Novo. Era, segundo Fernando Pessoa, uma personalidades superior “aos estrangeiros da República”. Filho de um general português e de uma devota senhora inglesa que em criança lhe deu a ler o Ivanhoe e o Quioxte, Couceiro viveu toda a sua longa existência como um herói de cavalaria. “Pacificou” o sul de Moçambique, garantindo ali o exercício da soberania portuguesa nas campanhas de Marracuene e Magul (1895), mas nunca passou do posto de capitão. Foi praticamente o único monárquico a pegar em armas em defesa da Coroa no 5 de Outubro de 1910, mas detestava o rei D. Manuel II. Africanista convicto, percebeu antes de muitos outros que Lisboa não tinha condições de suportar tantas parcelas do imenso império colonial. Defensor das tradições nacionais, criticou a sua perversão pela ditadura de Salazar, que o condenou ao exílio. Morreu sem honras militares, esquecido por muitos dos compatriotas que lhe haviam chamado herói e da pátria que lhe outorgara a Torre e Espada. Mas António Sérgio e Cunha Leal, homens de esquerda, não faltaram no funeral.
Era um português diferente dos outros: bateu-se sempre por ideais. Original, sem dúvida.