Um português diferente dos outros (3)
Em breves 152 páginas, Pulido Valente narra-nos deliciosos episódios das aventuras africanas de Couceiro, dignas de uma personagem de Verne ou Salgari, ou das malogradas incursões que conduziu no norte do País, entre 1911 e 1919, destinadas a restaurar a monarquia em desafio à vontade do próprio rei. Parece-me apenas demasiado breve o espaço reservado à atribulada relação do oficial biografado com o Estado Novo, culminando na ordem de expulsão que lhe é dada por Salazar – um aspecto que talvez possa ser revisto em futuras edições. Mas num mercado literário como o nosso, ainda pouco habituado a biografias, esta é uma das mais notáveis. Com a vantagem acrescida de devolver aos portugueses a memória de um homem só falecido há seis décadas mas que hoje nos parece quase tão distante como um dos combatentes de Atoleiros ou Aljubarrota. “Um herói português”, na designação de Pulido Valente.
Designação irónica, afinal. É que não podia haver alguém tão diferente do português comum.
Classificação: ****