Um português diferente dos outros (2)
Vasco Pulido Valente já nos tinha legado um excelente ensaio biográfico sobre Marcelo Caetano. Este livro sobre Paiva Couceiro e uma eventual terceira obra, destinada a biografar João Franco (o efémero chefe do Governo escolhido por D. Carlos, em 1907, numa desesperada tentativa de regenerar um país afogado no pântano do rotativismo monárquico), constituem um tríptico sobre figuras atípicas da direita portuguesa. A intenção expressa do autor é demonstrar que “existia outra direita antes do salazarismo e mesmo dentro do salazarismo”. Homens “educados num mundo de relativa tolerância”, que de algum modo constituiam uma alternativa anterior e posterior à “pequena tirania clérico-militar” corporizada durante meio século por Salazar.
Foram no entanto, e à revelia dos seus méritos, pessoas que fracassaram na acção política. Pulido Valente, que também nunca teve êxito nas suas fugazes incursões políticas, parece irremediavelmente atraído pelos vencidos, desinteressando-se dos vencedores. Paiva Couceiro era um desses derrotados, que na última eleição da monarquia, em Agosto de 1910, se apresenta às urnas pelo círculo ocidental de Lisboa e perde. Assume-se então como um “vencido da vida”, um homem só, alguém que “cada vez se entendia menos com a política e com os políticos portugueses”. Exactamente talhado para o retrato que o historiador aqui lhe faz na sua habitual prosa tensa, límpida e envolvente, que em nada se confunde com a verborreia académica tão frequente em produções do género em Portugal.