quinta-feira, junho 22, 2006

O estatuto catalão

Sempre achei estranha a forma como aqui passam despercebidas as importantes questões internas espanholas e, para mais me espantar, foi pouco comentado em Portugal o referendo que se realizou na Catalunha sobre o Estatuto daquela região autónoma.
O Estatuto é muito mais do que uma curiosidade e será imitado por outras regiões. Claro que não está em causa a unidade do Estado, como reclama a direita espanhola, mas se o exemplo catalão frutificar, mudará toda a relação entre o centro e as periferias, o que tem consequências indirectas para Portugal.
Uma Espanha federal implica regiões autónomas com identidade mais definida. Ora, Portugal sempre se afirmou perante a Espanha num contexto de um Estado centralista em relação a outro Estado muito definido. Com estatutos que dão às regiões espanholas uma nova natureza, a relação também muda. Na minha opinião, será mais difícil para Portugal distinguir-se no contexto ibérico.
Não resisto a contar uma pequena história que, a meu ver, ilustra bem o problema. Um dos directores do El Pais fazia uma pequena palestra perante alguns jornalistas europeus e, percebendo que havia portugueses na sala, explicou que na sua opinião, catalães, portugueses e espanhóis, “era tudo o mesmo”. A tese da continuidade ibérica vinha, neste caso, de uma pessoa que sinceramente simpatizava com o nacionalismo catalão. A sua visão era benévola e desvalorizava as diferenças. Aliás, visto deste ângulo, a independência portuguesa não fazia muito sentido.
Lembrando-me desta conversa, a descentralização espanhola deverá implicar, a médio prazo, uma diluição portuguesa, evolução que o centralismo de Madrid impedia de forma eficaz.

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