A crise de Timor e a nova ordem mundial (I)
A crise em Timor-Leste nada tem a ver com um Estado falhado, mas sim com uma política hipócrita. O País é inteiramente viável, pois as receitas de petróleo e gás natural, colocadas num fundo que tem legislação blindada, garantem aos timorenses pelo menos meio século de prosperidade. Por incrível que pareça, esta prosperidade está hoje ameaçada pela poderosa Austrália, que é um dos países mais ricos do mundo e não esconde desejar controlar um recurso que devia ser partilhado.
O primeiro-ministro que querem demitir (e que vão conseguir demitir) venceu as eleições constituintes de 2001, com 57% dos votos, e tem inteira legitimidade. Os puristas assinalam, com razão, que não houve legislativas em 2002, mas estamos a falar de um país pobre. Além disso, a ONU aceitou a transformação da constituinte em parlamento e a questão nunca foi relevante, até agora. Enfim, contra Mari Alkatiri, o primeiro-ministro, ainda não li ou ouvi um único facto confirmado. Os pretextos para o afastar são fabricados ou amplificados. Os interesses da Austrália pairam sobre todas as manobras. O Presidente Xanana Gusmão não tem poderes constitucionais para demitir Alkatiri e a rivalidade entre os dois homens já era motivo de preocupação antes da independência, em 2002.