A brigada anti-Scolari (III)
O problema, Nuno, não são as críticas a Scolari: é a linguagem carregada de ódio que alguns lhe dirigem - mesmo agora, em que a selecção nacional já está qualificada para os oitavos-de-final do Mundial. Dou-te um exemplo que me parece significativo: segunda à noite, no Dia Seguinte da SIC Notícias, José Guilherme Aguiar disse que o seleccionador mais não era do que "uma espécie de Sargento de Ferro, do Clint Eatswood", cuja única especialidade é congregar as suas tropas. "Hitler fez a mesma coisa", acrescentou com desdém o preclaro comentador televisivo conotado com o FC Porto. A mesma pessoa, no mesmo programa, desvalorizou o currículo de Scolari, esquecendo que se trata "apenas" do homem que em 2002 levou o Brasil à vitória no Mundial.
É certo que perdemos duas vezes com a Grécia no Euro-2004. Mas também é verdade que ganhámos os restante jogos, mesmo contra a Inglaterra e a Holanda, e fomos (somos) vice-campeões da Europa. Nunca ninguém nos levou tão longe nesta competição. Nem Toni, nem Queiroz, nem Artur Jorge, nem Oliveira, nem Humberto, nem toda essa legião de "catedráticos" da bola que por aí anda a rogar pragas ao seleccionador conseguiram alguma vez fazer melhor. Este é um dos mais graves problemas portugueses: a inveja do mérito alheio. Mesmo quando esse mérito é tão evidente que salta à vista...
Sei que não é o teu caso. Mas garanto-te que é o de muitos que aí andam. Uns porque sofrem de clubite aguda, outros porque padecem de aversão generalizada aos brasileiros e outros ainda porque sabem que, entre nós, um comentador de "sucesso" é sempre aquele que vê o copo meio vazio. Ver o copo meio cheio não assegura tanto eco nas plateias cá da terra...