A crise de Timor e a nova ordem mundial (II)
No tempo das superpotências, os pequenos países jogavam com a rivalidade entre russos e americanos e assim, por vezes, conseguiam passar entre as gotas da chuva. O jogo era perigoso, mas possível. Muitos conseguiram tornear os piores aspectos dos interesses egoístas dos grandes, obrigando as potências a certo realismo e contenção. Há muitas histórias de imperialismo puro e duro durante a Guerra Fria (ilustrada na imagem), mas os piores exemplos foram na altura erros crassos das superpotências (a invasão russa do Afeganistão ou o golpe no Chile apoiado por Washington, para citar apenas dois dos mais flagrantes).
A ordem mundial, hoje, despida da ideologia, mostra a despudorada face dos interesses mesquinhos dos mais fortes. Quanto aos fracos, já nem sequer a democracia os protege. A Austrália é o principal aliado dos Estados Unidos na região da Ásia-Pacífico e, por ter estado sempre do lado certo, tem carta branca no seu quintal. (Espero que a Imprensa australiana não permita que se ultrapassem certos limites da decência). Por seu turno, Timor é uma democracia ingénua e sem elites. Um país de extrema pobreza, onde é fácil manipular o desespero dos que não têm nada. E o seu acesso aos media internacionais é ridículo.
Receio que esta história acabe com Timor-Leste transformado num protectorado australiano, o petróleo do Mar de Timor bem seguro nas benfeitoras mãos das companhias petrolíferas australianas e o povo timorense mais uma vez abandonado pelo mundo.
Havia mais a dizer sobre a forma como o caso timorense ilustra a nova ordem mundial (importância da energia, irrelevância do voto, a organização de alianças), mas este post já vai demasiado longo.