Os contemporâneos
Centenas de jovens estudantes franceses que o ministro do Interior classificou de anarquistas só interessados em bater-se nas ruas ou hooligans sem outro interesse além da violência envolveram-se em incidentes com a polícia nas proximidades de um dos santuários do saber na Europa, a Sorbonne. Estes casseurs são da classe média e vivem numa das sociedades mais livres e prósperas do mundo. Alguns deles serão a futura elite da França. Verdadeiros privilegiados, afinal, com acesso a educação de primeira qualidade.
Em Granada, 20 mil jovens, aparentemente de todas as classes sociais, participaram num chamado “Botellón”, uma bebedeira colectiva em protesto contra restrições à venda de álcool a menores de idade. Houve manifestações semelhantes em várias cidades de Espanha, convocadas por sms. A Espanha tem uma das economias mais dinâmicas da Europa e é um dos países mais ricos do mundo. Estas pessoas parecem não encontrar melhores motivos para exercerem a sua indignação.
Cerca de 750 jovens americanos combatem há três dias numa cidade a norte de Bagdad. A batalha de Samarra é uma das mais violentas em três anos de um conflito que já matou o mínimo de 30 mil iraquianos (há quem fale em 100 mil), 2200 americanos e mais de cem ingleses. Cerca de 140 mil soldados americanos servem de alvo à insurreição no Iraque. Alguns não voltarão para casa. São todos muito jovens e, se não estivessem a defender o Império, estariam a enfrascar-se na sua cidade natal ou a protestar nas imediações de uma universidade. Ou, pura e simplesmente, não teriam nenhum motivo para se indignarem.
Falando em nihilismo contemporâneo, parece-me que estas três histórias não estão relacionadas. Mas, se estão, não imagino qual seja a moral da história.