Opinião pública
De repente, em pleno Inverno, multiplicam-se as esplanadas em Lisboa. É o habitual engenho muito português: como a nova legislação não permite fumar no interior da generalidade dos cafés, logo se improvisa um espaço exterior.
Estou numa destas esplanadas com um livro fascinante nas mãos: Retratos de Coragem – o célebre Profiles in Courage, de John Fitzgerald Kennedy, que em 1957 valeu o Prémio Pulitzer ao futuro presidente dos Estados Unidos da América. A obra, que demorou meio século a ter versão portuguesa, foi agora lançada pela Esfera do Caos, com uma excelente tradução de José Gomes André.
Na mesa ao lado, duas senhoras. Falam e fumam. Falam sobre fumo, protestando contra a nova lei do tabaco. Em tom suficientemente alto para me distrair momentaneamente da leitura.
- Disparate, termos que fumar agora aqui. E eu que sempre detestei fumar na rua! – desabafa uma.
- Também eu. Gosto de ver sair o fumo e aqui não dá – indigna-se a outra.
- Ainda nos arriscamos a apanhar uma valente constipação – conclui a primeira.
Divirto-me com os comentários das duas senhoras que não revelam medo dos comprovados efeitos do tabaco na saúde mas exprimem receio pelas nefastas consequências do ar livre. E logo retomo a leitura. O livro de Kennedy – sem dúvida fascinante – é um ensaio político sobre “a mais admirável das virtudes humanas – a coragem”. O então senador do Massachussets destaca oito políticos americanos de várias épocas e de várias tendências que não hesitaram em remar contra os ditames partidários, os editoriais da imprensa e as correntes dominantes na “opinião pública”, com sacrificios pessoais indescritíveis. “Homens que fizeram do Senado dos EUA algo mais do que um mero conjunto de robôs capazes de registar obedientemente as opiniões dos seus constituintes, ou do que uma assembleia de oportunistas, especializados tão-só em prever e seguir as inclinações da opinião pública.”
Interrompo de novo a leitura. As senhoras a meu lado ainda fumam, ainda protestam contra a nova lei que “viola as liberdades”. Sob o céu azul de Lisboa, talvez a capital europeia mais bafejada pelo esplendor do sol.
Estou numa destas esplanadas com um livro fascinante nas mãos: Retratos de Coragem – o célebre Profiles in Courage, de John Fitzgerald Kennedy, que em 1957 valeu o Prémio Pulitzer ao futuro presidente dos Estados Unidos da América. A obra, que demorou meio século a ter versão portuguesa, foi agora lançada pela Esfera do Caos, com uma excelente tradução de José Gomes André.
Na mesa ao lado, duas senhoras. Falam e fumam. Falam sobre fumo, protestando contra a nova lei do tabaco. Em tom suficientemente alto para me distrair momentaneamente da leitura.
- Disparate, termos que fumar agora aqui. E eu que sempre detestei fumar na rua! – desabafa uma.
- Também eu. Gosto de ver sair o fumo e aqui não dá – indigna-se a outra.
- Ainda nos arriscamos a apanhar uma valente constipação – conclui a primeira.
Divirto-me com os comentários das duas senhoras que não revelam medo dos comprovados efeitos do tabaco na saúde mas exprimem receio pelas nefastas consequências do ar livre. E logo retomo a leitura. O livro de Kennedy – sem dúvida fascinante – é um ensaio político sobre “a mais admirável das virtudes humanas – a coragem”. O então senador do Massachussets destaca oito políticos americanos de várias épocas e de várias tendências que não hesitaram em remar contra os ditames partidários, os editoriais da imprensa e as correntes dominantes na “opinião pública”, com sacrificios pessoais indescritíveis. “Homens que fizeram do Senado dos EUA algo mais do que um mero conjunto de robôs capazes de registar obedientemente as opiniões dos seus constituintes, ou do que uma assembleia de oportunistas, especializados tão-só em prever e seguir as inclinações da opinião pública.”
Interrompo de novo a leitura. As senhoras a meu lado ainda fumam, ainda protestam contra a nova lei que “viola as liberdades”. Sob o céu azul de Lisboa, talvez a capital europeia mais bafejada pelo esplendor do sol.
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