Carnaval pobre
Os portugueses vivem uma love story com o Carnaval que, hoje, já não entendo. Percebia-a quando os portugueses se mascaravam de matrafonas, quando faziam partidas uns aos outros, quando atiravam, na brincadeira, sacos de água. Esse espírito radical e saudável desapareceu, na civilização em que ninguém se quer mascarar de algo feio ou risível, em que todos, mesmo nas máscaras, querem ser belos e perfeitos. Por isso ontem, ao passar pelas ruas próximas de onde moro, vi apenas o Carnaval dos mais pequenos, mascarados de Fada, de Homem-Aranha, ou de Princesa. Não vi ninguém mascarado de Betty Feia, a versão moderna das matrafonas da minha infância. Às 11 da manhã só vi o Carnaval triste. O da já longa fila para a sopa dos pobres do outro lado da Igreja dos Anjos. O sinal do optimismo do país…