terça-feira, fevereiro 05, 2008

Atirador furtivo ou fortuito?


Ninguém me pediu para defender a Paula Sá, mas como o assunto envolve uma instituição e uma organização do nosso blogue, acho que é bom pôr as coisas no seu devido contexto. José Pacheco Pereira, como sempre, é capaz de dizer tudo e o seu contrário. Ou, pior, é capaz de dizer uma coisa, vir reafirmá-la e depois nem sequer perceber muito bem do que está a falar. Veja-se, em letra minúscula, o que Pacheco escreveu no seu Abrupto: "Se os deputados estiverem de boa fé na luta contra as práticas eticamente inaceitáveis no plano político, sabendo eu que há aqui uma fronteira que só se pode definir caso a caso, alterariam o actual modelo da Comissão de Ética, de modo a que casos como estes e este não possam acontecer sem sanção. O Diário de Notícias de ontem escrevia que eu defendia uma Comissão de Ética 'extraparlamentar', que nunca me passou pela cabeça. O que eu defendo é uma Comissão de Ética com reais poderes de sanção (a começar pela censura pública), constituída por personalidades parlamentares, passadas (antigos Presidentes da Assembleia, antigos deputados) e presentes, sem uma lógica maioria-minoria a não ser muito mitigada, com mandatos longos numa lógica senatorial, e de cujas decisões se possa recorrer em plenário com exigência de maioria qualificada".

Ora bem, a expressão comissão de ética "extraparlamentar" só surge no título da notícia. E bem, aliás. Porque joga com o que está no texto: "Pacheco Pereira advoga uma Comissão de Ética de carácter 'senatorial', composta por antigos presidentes do Parlamento e de outras figuras de relevo nacional. Na sua opinião, esta configuração permitiria à referida comissão ser 'respeitada' e permitir-lhe-ia intervir nas situações que 'são legais mas eticamente inaceitáveis', defendeu".

Mais, a jornalista está até sustentada num take da Lusa exactamente nos mesmos moldes. Agora pergunto: Qual a diferença? Estamos a brincar à política, não? O que é "uma Comissão de Ética com reais poderes de sanção (a começar pela censura pública), constituída por personalidades parlamentares, passadas (antigos Presidentes da Assembleia, antigos deputados) e presentes, sem uma lógica maioria-minoria a não ser muito mitigada, com mandatos longos numa lógica senatorial" se não uma autêntica e pura "comissão extraparlamentar"?

Então os antigos presidentes da AR, antigos deputados e os senadores são eleitos? Estão no Parlamento? Ou seriam designados pelos eleitos? Logo será sempre "extraparlamentar"... Começo a concordar com a análise que alguns fazem do percurso de Pacheco Pereira, dizendo que se trata de um líder de opinião com muita falta de pontaria, mas sempre certeiro. Sabem porquê? Porque em vez de usar espingarda, é um atirador de metralhadora, que dispara em todas as direcções para ter a certeza que acerta pelo menos num alvo. Desta vez, nem um só.