Um homem feliz
Por entre as torrentes de propaganda, designadamente as intermináveis transmissões televisivas, José Sócrates conheceu o momento mais alto da sua carreira política com a assinatura do Tratado de Lisboa, que visa instituir o novo documento-guia para a União Europeia.
A propaganda não iludiu, no entanto, questões fundamentais. Desde logo, o documento de nada vale se não for ratificado por cada um dos Estados-membros - a Hungria apressou-se a fazê-lo, inaugurando a série. Mas se a ratificação parece garantida em todos aqueles que a submeterem aos respectivos parlamentos (como sucederá em Portugal, contrariando anteriores promessas eleitorais do PS e do PSD), há pelo menos um país – a Irlanda – onde o referendo é obrigatório por imperativo constitucional. E aqui não existe a certeza antecipada de que o tratado seja aprovado: a mais recente sondagem, publicada no Irish Times, indica que só 25 por cento dos irlandeses tencionam votar “sim”. Basta comparar: há dois anos, quase metade do electorado da Irlanda mostrava-se de acordo com o tratado constitucional, antecessor – e praticamente irmão gémeo – daquele que agora foi assinado em Lisboa.
Mas não param aqui os problemas. A liderança de Gordon Brown é cada vez mais frágil perante as crescentes correntes de opinião eurocépticas no Reino Unido, à esquerda e à directa. A Bélgica permanece há longos meses sem governo e em cada dia que passa enfrenta a perspectiva de uma irreparável desagregação, de consequências imprevisíveis. A iminente independência unilateral do Cosovo, apoiada por Washington, divide profundamente os parceiros europeus. E as próprias fronteiras da União, a prazo, são outro tema de acesa polémica, com fracturas evidentes entre apoiantes e adversários da integração turca.
Problemas atrás de problemas atrás de problemas. Entretanto, o almoço no Museu dos Coches foi opíparo e o vinho do Porto vintage, colheita de 1957, era excelente, ao que rezaram as crónicas. Sócrates está feliz. Haja alguém feliz no meio deste turbilhão que certamente nenhum dos “pais da Europa” imaginaria na corrente de optimismo que há meio século inundava o Velho Continente.
A propaganda não iludiu, no entanto, questões fundamentais. Desde logo, o documento de nada vale se não for ratificado por cada um dos Estados-membros - a Hungria apressou-se a fazê-lo, inaugurando a série. Mas se a ratificação parece garantida em todos aqueles que a submeterem aos respectivos parlamentos (como sucederá em Portugal, contrariando anteriores promessas eleitorais do PS e do PSD), há pelo menos um país – a Irlanda – onde o referendo é obrigatório por imperativo constitucional. E aqui não existe a certeza antecipada de que o tratado seja aprovado: a mais recente sondagem, publicada no Irish Times, indica que só 25 por cento dos irlandeses tencionam votar “sim”. Basta comparar: há dois anos, quase metade do electorado da Irlanda mostrava-se de acordo com o tratado constitucional, antecessor – e praticamente irmão gémeo – daquele que agora foi assinado em Lisboa.
Mas não param aqui os problemas. A liderança de Gordon Brown é cada vez mais frágil perante as crescentes correntes de opinião eurocépticas no Reino Unido, à esquerda e à directa. A Bélgica permanece há longos meses sem governo e em cada dia que passa enfrenta a perspectiva de uma irreparável desagregação, de consequências imprevisíveis. A iminente independência unilateral do Cosovo, apoiada por Washington, divide profundamente os parceiros europeus. E as próprias fronteiras da União, a prazo, são outro tema de acesa polémica, com fracturas evidentes entre apoiantes e adversários da integração turca.
Problemas atrás de problemas atrás de problemas. Entretanto, o almoço no Museu dos Coches foi opíparo e o vinho do Porto vintage, colheita de 1957, era excelente, ao que rezaram as crónicas. Sócrates está feliz. Haja alguém feliz no meio deste turbilhão que certamente nenhum dos “pais da Europa” imaginaria na corrente de optimismo que há meio século inundava o Velho Continente.