sexta-feira, dezembro 14, 2007

Sexta-feira


Na manhã seguinte, Julieta Grau apareceu de novo nas águas-furtadas. Que quererá de mim desta vez?, interroguei-me de imediato. Disse para comigo: ontem devia ter ido com ela para a cama. Com efeito, as mulheres só querem uma coisa, que os homens vão para a cama com elas. Mas se vamos para a cama com uma mulher, ela pode foder-nos. E se não queremos, fode-nos na mesma por não termos querido.
Lembrei-me de um romancezeco inglês que tinha lido há pouco tempo em que descrevia a colorida fantasia feminina de estar sentada num jardim ao cair da tarde, a ler e à espera do homem que todos os dias volta ao lar e aos seus braços. Será isso o que quer?, interroguei-me. E se ela me confessasse que era isso que queria, deveria acreditar nela? Por outro lado, consistia a minha fantasia em voltar a casa num comboio suburbano a abarrotar com uma pesada pasta e encontrar-me com uma mulherzinha intelectual que tinha passado o dia negligentemente deitada a ler Unamuno? – Enrique Vila-Matas in Paris Nunca se Acaba

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