Sarkozy e Brown, que diferença
O momento mais "caricato" do dia, como lhe chamou alguma imprensa, diz alguma coisa do que é Nicolas Sarkozy. Ao chegar ao Mosteiro dos Jerónimos, em vez de se dirigir ao palco preparado para a fotografia de souvenir, dirigiu-se à multidão de jornalistas, colocados atrás de grades. Aquilo que em Chirac seria considerado uma gaffe monumental acaba por ser natural com "Sarko". O Presidente francês deixou José Sócrates e Luís Amado pendurados e o que mais me impressionou não foi só a atitude e a deferência com os jornalistas. O pior foi o desplante com que Amado ia chamando a atenção dos oficiais de ligação (e quejandos) de que Sarkozy deveria era dirigir-se na sua direcção. Na sua e de Sócrates. Que, surpreendentemente, até teve jogo de cintura e chamou ele próprio "Sarko" quando este já se dirigia para o interior dos Jerónimos, ignorando por completo o presidente da União Europeia e o seu colaborador. Ao que muitos chamam um "erro de protocolo", eu prefiro chamar uma atitude nobre. Um gesto de respeito. Sem os media, "Sarko" e companhia eram meros mortais.
A contrastar com tudo isto, regista-se a ausência de Gordon Brown do acto de assinatura do Tratado de Lisboa, no qual foi substituído pelo seu jovem MNE, David Miliband. Brown acabou por ter direito, mais tarde, a uma assinatura privada e só sua do tratado, mas a atitude também diz muito. Consta que o PM britânico tinha compromissos inadiáveis lá na sua terra, como um debate parlamentar. Mas lá se escapou à fotografia de família com os outros líderes e caiu naquilo que nem Blair faria: quebrar o formalismo e a pontualidade britânica. Primeiro, recusou vir a Lisboa por causa de Mugabe e dos direitos humanos, políticos e civis no Zimbabwe. Para ele, ou estava um ou outro. Veio Mugabe e o ditador teve que ouvir das boas de Merkel e de Sarkozy (até Sócrates e Barroso, em tons diferentes, falaram no assunto). Brown ficou ao longe a ver navios. E perdeu uma boa oportunidade para falar, não para estar calado. A cada dia que passa fica mais que provado que a sucessão dinástica no new labour não correu bem. Brown é muito pior que Blair e está de passagem. É uma espécie de Ferro Rodrigues depois de Guterres. Só que é pior porque ainda por cima está no poder...