quarta-feira, dezembro 19, 2007

Gueto literário

Fui conhecer a nova livraria Byblos, nas Amoreiras, e gostei bastante. A ponto de provavelmente passar a ser a minha primeira escolha, já que a actual, a FNAC, à qual estou eternamente agradecido pelo papel que teve na revitalização do Chiado, traz-me problemas inultrapassáveis: ao fim de dez minutos naquela cave abafada sinto vontade de fugir dali para fora.
Não sei se já existem noutras livrarias portuguesas, mas na Byblos vi que havia uma secção dedicada à "Literatura Gay". Como estava com um pouco de pressa, não me demorei, mas, entre uma série de nomes de que nunca tinha ouvido falar, lá estavam também livros de Oscar Wilde.
Ora, pergunto-me se faz algum sentido falar de "literatura gay", discriminá-la numas prateleiras e pôr lá autores como Wilde. Nunca li os livros dele numa perspectiva homo ou hetero, nem os de Gide, Yourcenar, Lorca, Forster, os clássicos gregos, Paul Bowles, Allen Ginsberg, David Leavitt, o brasileiro Bernardo Carvalho (que aproveito para recomendar como um dos melhores autores de língua portuguesa da actualidade) e sei lá mais quantos escritores que abordaram a "temática" e de que agora não me lembro.
Se a justificação para esta secção da livraria é os livros descreverem "cenas fortes", ponham-nos então numa secção de "Literatura Erótica", onde estejam hetero, homo, bissexuais e tudo o mais que houver.
Já comentei este assunto com amigos, mas quase todos que a defenderam deram-me a pior das respostas, a de que "lá fora" já são comuns...