O que é que vão celebrar em 2010 ?!?
Ferreira Fernandes coloca hoje na sua coluna do Diário de Notícias o dedo na funesta ferida do regime, ao indignar-se com a assumpção por parte de Luis Filipe Meneses do direito ao usufruto para as suas hostes dum dos muitos lugares de topo duma empresa estatal, no caso a administração do maior banco nacional. É público que, em detrimento da meritocracia e do bom senso na gestão dos recursos nacionais, o regime acalenta um sistema paternalista que promove os apaniguados dos principais partidos de poder aos mais suculentos lugares da administração mais ou menos pública. A "moral republicana" e a democracia representativa não se libertaram duma centenária tradição proteccionista, macrocéfala e despótica. O regime sustenta-se aliás duma clientela incompetente ou simplesmente oportunista, uma medíocre neo-fidalguia, que se alimenta e sobrevive gananciosa nas máquinas dos partidos situacionistas.
Pessoalmente estranho o cúmplice silêncio da nossa imprensa da especialidade - pretensamente independente e livre - perante a podridão do sistema que a todos nos consome os preciosos recursos. Tarda a denunciar o sistema que promove a injustiça, o compadrio e o clientelismo. Se calhar porque também se alimenta dele.
Como Miguel Sousa Tavares sagazmente escreve na sua crónica do Expresso desta semana, “há duas espécies de portugueses: os que vivem a pagar ao estado e os que vivem a tirar aos estado”. Assim sobrevive o regime, com as trágicas consequências encobertas pelo beneplácito placebo dos fundos comunitários.
Ao longo dos últimos séculos foram necessárias as mais radicais barbaridades revolucionárias para que tudo permanecesse na mesma, ou seja - obviamente em termos relativos - na cauda do mundo civilizado.
Perante a constatação do crónico atraso nacional de que eram vítimas as classes mais desprotegidas e cuja condição social se encontrava perto da miséria, D. Manuel II, numa desesperada tentativa de alterar o decadente curso da história, uns meses antes da inútil revolução do cinco de Outubro, contratou por sua conta e risco o famoso sociólogo francês Léon Poinsard para que desenvolvesse as necessários observações e elaborasse um dossier que apontasse as pistas para uma política regenerativa e promotora do "fomento nacional". O sociólogo percorreu o país de lés a lés analisando a organização social e as condições de vida da população que lhe mereceram um sinistro diagnóstico: a principal causa da “desordem crónica” do país residia na sua organização política dominada por uma “tribo” pouco escrupulosa, ávida de poder e proventos que dominava a seu bel-prazer devido à fraca tradição de liberdades locais que fazia centralizar todo o poder e autoridade no governo. O rotativismo protagonizado pelos dois grandes partidos do poder, o regenerador e o progressista, contribuía apenas para criar uma série de clientelismos e servir interesses particulares em detrimento interesse nacional.”(...) "Uma das consequências mais singulares e mais injustas deste sistema é o predomínio quase continuo de um poder anónimo e irresponsável que frequentemente dirige, de uma maneira indirecta, mas efectiva, toda a alta politica da governação.”
É por estas e por tantas outras que eu me assumo à margem do sistema. Estou-me nas tintas para este circo, esta "guerra" não é minha. Repartam os lugares nos bancos, nos institutos públicos, saqueiem tudo o que possam à conta da ignorância e do acriticismo nacional. Por mim, tenho um projecto de vida para chutar para a frente, com muito trabalho e sem favores de ninguém. Mas quando a ganância dos apaniguados esquece o pudor e descrição que é devida ao ladrão, eu revolto-me. Profundamente. Mas para alívio interior concentremo-nos no essencial, que é o Natal que se celebra já daqui a nada.
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Fontes: Maria Cândida Proença, Léon Poinsard e Rui Ramos
Pessoalmente estranho o cúmplice silêncio da nossa imprensa da especialidade - pretensamente independente e livre - perante a podridão do sistema que a todos nos consome os preciosos recursos. Tarda a denunciar o sistema que promove a injustiça, o compadrio e o clientelismo. Se calhar porque também se alimenta dele.
Como Miguel Sousa Tavares sagazmente escreve na sua crónica do Expresso desta semana, “há duas espécies de portugueses: os que vivem a pagar ao estado e os que vivem a tirar aos estado”. Assim sobrevive o regime, com as trágicas consequências encobertas pelo beneplácito placebo dos fundos comunitários.
Ao longo dos últimos séculos foram necessárias as mais radicais barbaridades revolucionárias para que tudo permanecesse na mesma, ou seja - obviamente em termos relativos - na cauda do mundo civilizado.
Perante a constatação do crónico atraso nacional de que eram vítimas as classes mais desprotegidas e cuja condição social se encontrava perto da miséria, D. Manuel II, numa desesperada tentativa de alterar o decadente curso da história, uns meses antes da inútil revolução do cinco de Outubro, contratou por sua conta e risco o famoso sociólogo francês Léon Poinsard para que desenvolvesse as necessários observações e elaborasse um dossier que apontasse as pistas para uma política regenerativa e promotora do "fomento nacional". O sociólogo percorreu o país de lés a lés analisando a organização social e as condições de vida da população que lhe mereceram um sinistro diagnóstico: a principal causa da “desordem crónica” do país residia na sua organização política dominada por uma “tribo” pouco escrupulosa, ávida de poder e proventos que dominava a seu bel-prazer devido à fraca tradição de liberdades locais que fazia centralizar todo o poder e autoridade no governo. O rotativismo protagonizado pelos dois grandes partidos do poder, o regenerador e o progressista, contribuía apenas para criar uma série de clientelismos e servir interesses particulares em detrimento interesse nacional.”(...) "Uma das consequências mais singulares e mais injustas deste sistema é o predomínio quase continuo de um poder anónimo e irresponsável que frequentemente dirige, de uma maneira indirecta, mas efectiva, toda a alta politica da governação.”
É por estas e por tantas outras que eu me assumo à margem do sistema. Estou-me nas tintas para este circo, esta "guerra" não é minha. Repartam os lugares nos bancos, nos institutos públicos, saqueiem tudo o que possam à conta da ignorância e do acriticismo nacional. Por mim, tenho um projecto de vida para chutar para a frente, com muito trabalho e sem favores de ninguém. Mas quando a ganância dos apaniguados esquece o pudor e descrição que é devida ao ladrão, eu revolto-me. Profundamente. Mas para alívio interior concentremo-nos no essencial, que é o Natal que se celebra já daqui a nada.
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Fontes: Maria Cândida Proença, Léon Poinsard e Rui Ramos