domingo, dezembro 02, 2007

Estrelas de cinema (9)



A OUTRA MARGEM *
A minha expectativa era relativamente elevada sobre este filme de Luís Filipe Rocha. Afinal, trata-se do autor de Adeus, Pai (1996), um dos melhores títulos da cinematografia portuguesa das últimas duas décadas. Até por isso a desilusão foi ainda maior: A Outra Margem parece um Almodóvar de série Z. Aproveita o magnífico cenário natural de Amarante, belíssima povoação que parece mesmo destinada a servir de décor de cinema – é este o seu mérito principal, mas que não chega para grandes elogios. De resto, tem actores esforçados e um argumento que noutras mãos (as de Almodóvar, precisamente) talvez levantasse voo. Assim fica um filmezinho fraquinho pobrezinho tristezinho rasteirinho como tantos que temos visto, vezes de mais, ao longo das três últimas décadas. E com deficiências óbvias: ao nível do som, por exemplo. E dos diálogos: nenhuma personagem supostamente amarantina fala sequer com um simulacro de acento da região. E aparece um alentejano de gema que, ao abrir a boca, revela a mais nítida pronúncia... de Lisboa.
Um dia ainda alguém há-de conseguir explicar-me esta permanente aversão dos cineastas portugueses aos sotaques, que outras filmografias praticam com desenvoltura. Pôr tudo a falar da mesma maneira, muito-à-teatro-do-bairro-alto, muito à antiga Emissora Nacional, muito à moda do Chiado, é que não. Um alentejano fala como todos os alentejanos, um transmontano fala como qualquer transmontano - excepto nos filmes portugueses. Ajudem-me a perceber: sem explicador eu não vou lá.

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