segunda-feira, dezembro 10, 2007

Dissonância e concordância


1. Não posso concordar com o que o nosso Pedro escreveu abaixo. Eu, pelo menos, senti no texto que introduziu a entrevista ao El País um travo reforçado de sabor irónico. Onde o Pedro viu elogios, observei a desmontagem de uma pose. Escrever que «dá a impressão que governa um continente inteiro» é outra forma de dizer que «ele não se enxerga». Chamar a alguém - especialmente a um político - um «actor consumado» é apontar o dedo à ausência de verdadeiro conteúdo em detrimento do marketing e da forma. No cômputo geral, de uma maneira subtil, Sócrates surge como a formiguinha suada, trabalhadora e esforçada, que adopta a postura de quem gostaria de voar não tendo asas, antes sapatos Prada que o agarram à terra mais chã.
2. Na entrevista, como em especial no discurso de encerramento da Cimeira, a ausência de conteúdo relevante que o eleve a um nível de Estado é aliás evidente. Momentos históricos pedem discursos históricos. O blá blá blá com que Sócrates recheou o seu discurso é revelador de que lhe faltam capacidade retórica (no sentido clássico) e ghost writers com bagagem. Mas é, acima de tudo, a demonstração de ausência de algo intrinsecamente Maior: A capacidade de partilhar um desígnio colectivo, uma missão nacional, uma visão mobilizadora. Dir-me-ão que Sócrates não é nenhum Kennedy ou Churchill. Pois não será. Mas, como bem escrevia o nosso FAL ainda ontem, não foi preciso muito a Sarkozy para «em vez de despachar aquilo em dez ou quinze minutos com frases vazias», discursar durante 40 minutos com a lucidez, a clareza e o poder de afirmação de quem sabe o que vale, o que quer e por onde vai.

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