Sto. António dos Olivais
É verdade que passei uma boa temporada em Coimbra, vivi em Sto. António dos Olivais. Lembro-me que ouvia Lloyd Cole de mais, e que um dia uma bem intencionada alma me ofereceu um gatito siamês para minha salutar companhia. Acho que o animal chegou demasiado crescido às minhas mãos, já elegante e lustroso. Desde então tentámos com afinco domesticarmo-nos mutuamente, mas a causa era perdida - foi curta e inglória a sua passagem na minha vida. O bichano, além de não me ligar peva, possuía uma estranha extravagância: subir às arvores que não sabia descer. Uma noite, de madrugada, acordei estremunhado com os seus miados aflitos. Espreitei ensonado para o quintal, e lá estava ele, empoleirado num tronco da alta árvore. Na noite seguinte ao chegar a casa, àquela pacata rua de província, o gato lá permanecia, balanceante, num ramo ainda mais alto e mais frágil, com um miar mais sonoro e desesperado. Pressenti os olhares estremunhados e recriminatórios dos meus vizinhos, ocultos pelas suas térreas gelosias. Ao terceiro dia, finalmente entrou em casa despenteado, rouco e a coxear. Dei-lhe uma reconfortante refeição, e nessa noite ambos dormimos um sono profundo e retemperador.
Que eu me lembre, a cena repetiu-se mais duas vezes. À medida que o tempo passava, o bicho subia mais alto, para os mais frágeis e trémulos ramos, ao nível de um segundo andar. O pânico da vertigem impelia-o para o alto. Atirei-lhe com pinhas, chamei os bombeiros, a situação era desesperada. Até que o gato caía de maduro, pelo cansaço ou pela força do vento.
O bicho era bonito. Olhos verdes claros, por detrás duma mascarilha castanha a condizer com as botas e luvinhas, sobre um pelo sedoso bege claro. Uns dias mais tarde o bichano desapareceu. Foi algum incauto forasteiro que o roubou, atraído pela fidalga figura do estúpido animal. Ou então um vizinho mais zeloso lhe deu um curativo fatal. Para bem da boa vizinhança.
Demorou algum tempo mais para que eu próprio, pelo meu pé, descesse da minha árvore.
Que eu me lembre, a cena repetiu-se mais duas vezes. À medida que o tempo passava, o bicho subia mais alto, para os mais frágeis e trémulos ramos, ao nível de um segundo andar. O pânico da vertigem impelia-o para o alto. Atirei-lhe com pinhas, chamei os bombeiros, a situação era desesperada. Até que o gato caía de maduro, pelo cansaço ou pela força do vento.
O bicho era bonito. Olhos verdes claros, por detrás duma mascarilha castanha a condizer com as botas e luvinhas, sobre um pelo sedoso bege claro. Uns dias mais tarde o bichano desapareceu. Foi algum incauto forasteiro que o roubou, atraído pela fidalga figura do estúpido animal. Ou então um vizinho mais zeloso lhe deu um curativo fatal. Para bem da boa vizinhança.
Demorou algum tempo mais para que eu próprio, pelo meu pé, descesse da minha árvore.