Postal de Natal
Ao chegar a casa cruzo-me muitas vezes com um casal com um bebé. Acho que só não os encontro sempre porque as veias deles precisam de mais químicos do que aqueles que o amor pelo bebé lhes desperta e esse tipo de exigência impõe-se a qualquer rotina.
A pele lustrosa do bebé contrasta com a deles. Os olhos redondos e luminosos do bebé não param de olhar em volta, abismados com tudo; os olhos do rapaz e da rapariga só se fixam no chão. Mas o mais estranho naquele grupo é a forma como agarram o bebé: uma vez a rapariga, outra o rapaz, seguram-no frente ao peito, com os braços afastados do corpo, como se transportassem o filho numa peanha.
Às vezes, pela forma concentrada com que o olham, parece que o bebé é uma bússola. Outras vezes, parece que é o bebé que vai à frente, erguido do chão, a decidir o caminho.