A História na primeira pessoa (1)
Editam-se em Portugal cerca de mil livros por mês. Nada mau, para um país com tão poucos hábitos de leitura. Mas continuo a espantar-me com a ausência de títulos importantes no nosso mercado editorial. Há tempos sugeri a um amigo, dono de uma das mais importantes chancelas editoriais do País, o lançamento da versão portuguesa de A Life, o fabuloso livro de memórias de Elia Kazan – uma impressionante viagem ao mundo do cinema. Ele encolheu os ombros, resignado: “Os portugueses não apreciam autobiografias.”
Será mesmo? Custa-me acreditar nisto. Sempre gostei de autobiografias, um género que só agora começa a cultivar-se entre nós. Cavaco Silva escreveu a dele (com um terceiro volume, referente à passagem pelo Palácio de Belém, entretanto prometido) e Mário Soares também anda a redigir as memórias – embora, se não o fizesse, já teria deixado esse precioso legado que é o seu livro-entrevista com Maria João Avillez, mistura de retrato pessoal com um vasto fresco da história do século XX português, que se torna ainda mais interessante por ser tão subjectivo.
Continuo a achar que as memórias de Elia Kazan teriam plena aceitação no nosso mercado. Mas talvez o livro que hoje mais gostaria de ver com edição portuguesa fosse a autobiografia de Ben Bradlee. Sabem quem é? O jornalista que transformou o Washington Post num dos jornais mais célebres à escala planetária. Fala-se muito em Bob Woodward e Carl Bernstein, os repórteres que revelaram ao mundo todas as implicações do caso Watergate. Fala-se muito menos em Bradlee, que na altura dirigia o Washington Post, então uma espécie de parente pobre na alta roda da imprensa norte-americana, sempre à sombra do poderoso rival New York Times. Mas nenhum dos artigos de Woodward e Bernstein (a dupla que ele baptizou de “Woodstein”, nos longos serões de trabalho no jornal durante a revelação do escândalo que conduziria à demissão do presidente Nixon) teria sido possível sem a firmeza de Bradlee, que lhes deu destaque em sucessivas manchetes. Contra todas as pressões do poder político.
Será mesmo? Custa-me acreditar nisto. Sempre gostei de autobiografias, um género que só agora começa a cultivar-se entre nós. Cavaco Silva escreveu a dele (com um terceiro volume, referente à passagem pelo Palácio de Belém, entretanto prometido) e Mário Soares também anda a redigir as memórias – embora, se não o fizesse, já teria deixado esse precioso legado que é o seu livro-entrevista com Maria João Avillez, mistura de retrato pessoal com um vasto fresco da história do século XX português, que se torna ainda mais interessante por ser tão subjectivo.
Continuo a achar que as memórias de Elia Kazan teriam plena aceitação no nosso mercado. Mas talvez o livro que hoje mais gostaria de ver com edição portuguesa fosse a autobiografia de Ben Bradlee. Sabem quem é? O jornalista que transformou o Washington Post num dos jornais mais célebres à escala planetária. Fala-se muito em Bob Woodward e Carl Bernstein, os repórteres que revelaram ao mundo todas as implicações do caso Watergate. Fala-se muito menos em Bradlee, que na altura dirigia o Washington Post, então uma espécie de parente pobre na alta roda da imprensa norte-americana, sempre à sombra do poderoso rival New York Times. Mas nenhum dos artigos de Woodward e Bernstein (a dupla que ele baptizou de “Woodstein”, nos longos serões de trabalho no jornal durante a revelação do escândalo que conduziria à demissão do presidente Nixon) teria sido possível sem a firmeza de Bradlee, que lhes deu destaque em sucessivas manchetes. Contra todas as pressões do poder político.
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