Um «lamento mas não posso ajudá-lo» bastaria
Amigos meus morreram. Mais depressa do que era suposto. Novos ainda. Cedo para a idade que tinham. Para a idade que tenho. Hoje, depois de passar um dia inteiro preocupado com um Amigo que está tão dentro de mim que não consigo nomear o lugar onde se encontra, armei-me em idiota. O Fernando fez um transplante e eu, ingenuamente, tentei saber como se encontrava o seu estado de saúde. Nestas coisas, sou como um Buldogue. Liguei para o director do hospital, tinha o telemóvel desligado. Liguei para o professor doutor Eduardo Barroso, antigo ou ainda chefe da equipa responsável pelo transplante em causa. Atendeu-me. Quis saber se a pergunta era digna de interromper-lhe o jantar. Depois de ouvi-la, entendeu que não e desligou o telefone. Podia dizer aqui que o professor doutor Eduardo Barroso é um poço de ar. E digo. Infelizmente, nunca soube escrever sobre o vácuo ou a inanidade e só por isso não desenvolvo. Já editei a prosa do professor doutor Eduardo Barroso. Já sabia o que ele vale quando escreve. Sei agora o que vale quando lhe interrompem o jantar. Vale o mesmo.