Porreiro, pá
A forma como a União Europeia, no seu conjunto, aceitou negociar e fechar este tratado fica para a História. O texto final, para além de esconder o que o Tratado Constitucional punha à mostra, é uma manta de retalhos onde todos ganham e ninguém fica a perder. Quando assim é, algo vai mal. Como dizia um amigo meu, é um tratado "em saldos", onde a Itália ganha um lugar, a Polónia mantém o compromisso de Ioannina e o Reino Unido consegue as opting-outs todas (provavelmente para depois chumbar tudo em referendo, ao gosto do sr. Brown).
Para nós, resta-nos a consolação de o impasse se ter resolvido durante a presidência portuguesa (o eng. Sócrates não se irá cansar de repetir isso nos próximos dois anos, apesar do mérito caber por inteiro a especialistas de várias nacionalidades) e de o acordo resultar num Tratado de Lisboa, o que fica sempre bem em termos de marketing político. O sumo deixo para os especialistas, como o Luís Naves, não deixando ainda de notar que após a declaração final o eng. Sócrates se virou para o dr. Barroso (ainda com os microfones ligados) e soltou qualquer coisa como isto: "Porreiro, pá". Acho que o gesto e o tom resumem bem o que está em causa.