Um postal do Ruhr
Em Essen, venho encontrar uma gente com aspecto duro e de sorriso avaro. A vida nesta terra até é muito "em conta", com os preços quase como os de Lisboa. Chuvisca e já faz muito frio.
Ontem tive tempo para visitar o centro da cinzenta cidade, que emerge dos densos bosques do Ruhr. Nestas paisagens podemos imaginar os mais misteriosos contos de fadas e de princesas abandonadas por maléficas bruxas de chapéu em bico. Em Essen, com a sua arquitectura bem planificada nos anos 50 e 60, o que mais me despertou curiosidade foi a monumental Sinagoga (na imagem) construída no principio do século XX pela então próspera comunidade judaica. Hoje totalmente restaurado do grande incêndio e das pilhagens de 1938, este majestoso templo com os seus imponentes portões ferrados a cobre, sobreviveu miraculosamente aos intensos bombardeamentos dos aliados. Lá dentro encontrava-se uma impressionante exposição sobre as perseguições aos judeus no regime nazi. Durante a minha visita, uma turma de animadas criancinhas da primária circulava pelo edifício em pequenos e saltitantes grupos, naquilo que me pareceu um jogo, tipo “pedi-paper”, num aparente descomplexado convívio com os buracos negros da sua história.
Durante os três dias da Feira que me aqui trouxe, foram revigorantes as caminhadas ao frio da noite, do centro de congressos para o hotel, numa estrada por entre o sombrio parque florestal. Durante estas longas tiradas, logo despontava um saudável apetite para um merecido e reconfortante jantar. Hoje, por exemplo, foi a vez de manjar um belo naco de ossobuco com cogumelos selvagens, regado por uma saborosa cerveja gelada. Não há dieta que resista a uma contrita missão no meio dos bárbaros!
É já amanhã, segunda-feira, pela fresca, que regresso no rapidíssimo ICE directo a Frankfurt, onde, se Deus quiser, tomarei o avião de volta à “terra”. Já com saudades do nosso “pequeno mundo”.