Um epíteto equivocado
Nas caixas de comentários do Corta-fitas são recorrentes provocações maliciosas que me atribuem um carácter puritano ou moralista. Por achar o epíteto francamente estranho e até um tanto engraçado, tomo-o aqui como desafio a algumas considerações que julgo pertinentes.
O puritanismo como putativo reflexo de uma vivência religiosa é um cliché vazio, posso garanti-lo. Tomo, na verdade, o puritanismo como um modo de autocastração com origem numa deficiente auto-estima, e muito aquém, aliás, de uma inspiração religiosa, qualquer que seja. Nessa perspectiva, o epíteto é ingénuo ou imanado de má-fé, pois o cristianismo não significa uma conduta moral. Ao contrário, essa ética resulta do contínuo aprofundamento da vivência espiritual apontando, por natural consequência, para uma maior exigência estética e, logo, ... moral.
Esse longo e intrincado percurso de aprendizagem e aperfeiçoamento é construído com as contingências subjectivas de cada indivíduo e sua história pessoal, não sujeitável a tribunais mundanos ou a juízos superficiais.
Assumem-se porventura os cristãos como os mais imperfeitos dos homens, tendo sido a estes que Jesus desejou acolher, “incluir”, como agora se diz. (Não deveríamos antes recear os integralíssimos virtuosos que por aí pululam, alienados de si próprios e da realidade, utopicamente empenhados em mudar o impassível “mundo” à sua volta?)
Voltando aos meus presumidos pudores e puritanismos, tenho a sorte de ter crescido numa família tradicional e sem “complexos” de maior. Se me foram transmitidos com veemência valores morais básicos, também me foi transmitida uma tranquila vivência dos assuntos do sexo e da sexualidade. Por outro lado, o meu desenvolvimento nesse campo não me trouxe qualquer trauma digno desse nome, o que me confere uma vida afectiva gratificante.
Considero-me uma pessoa inteiramente normal: vivo, cresci e actuo neste agitado contraditório e apaixonante mundo, sem fugas, em estrita relação com a realidade, como a maioria dos católicos que conheço. E foi de pequeno que aprendi a apreciar a vida, a beleza, em toda a sua acepção, até como reflexo da divina criação. Sem desnecessárias complicações moralistas. Não, não foi na rua que apreciei as primeiras imagens eróticas. Nunca a mais inquietante beleza feminina me foi apresentada como transgressiva. É que, por detrás da mais espampanante ou provocadora modelo fotográfica, por detrás da mais curvilínea actriz de cinema, há sempre uma pessoa inteira.
Finalmente, apetece-me dizer que antes do advento dos neo-moralistas de inspiração freudiana e da da prosélita “inteligentzia” regimental, havia já uma tradição de boa-educação e de bom-senso.
Mesmo para além (ou aquém) da religião. Não misturemos, pois, as coisas.
O puritanismo como putativo reflexo de uma vivência religiosa é um cliché vazio, posso garanti-lo. Tomo, na verdade, o puritanismo como um modo de autocastração com origem numa deficiente auto-estima, e muito aquém, aliás, de uma inspiração religiosa, qualquer que seja. Nessa perspectiva, o epíteto é ingénuo ou imanado de má-fé, pois o cristianismo não significa uma conduta moral. Ao contrário, essa ética resulta do contínuo aprofundamento da vivência espiritual apontando, por natural consequência, para uma maior exigência estética e, logo, ... moral.
Esse longo e intrincado percurso de aprendizagem e aperfeiçoamento é construído com as contingências subjectivas de cada indivíduo e sua história pessoal, não sujeitável a tribunais mundanos ou a juízos superficiais.
Assumem-se porventura os cristãos como os mais imperfeitos dos homens, tendo sido a estes que Jesus desejou acolher, “incluir”, como agora se diz. (Não deveríamos antes recear os integralíssimos virtuosos que por aí pululam, alienados de si próprios e da realidade, utopicamente empenhados em mudar o impassível “mundo” à sua volta?)
Voltando aos meus presumidos pudores e puritanismos, tenho a sorte de ter crescido numa família tradicional e sem “complexos” de maior. Se me foram transmitidos com veemência valores morais básicos, também me foi transmitida uma tranquila vivência dos assuntos do sexo e da sexualidade. Por outro lado, o meu desenvolvimento nesse campo não me trouxe qualquer trauma digno desse nome, o que me confere uma vida afectiva gratificante.
Considero-me uma pessoa inteiramente normal: vivo, cresci e actuo neste agitado contraditório e apaixonante mundo, sem fugas, em estrita relação com a realidade, como a maioria dos católicos que conheço. E foi de pequeno que aprendi a apreciar a vida, a beleza, em toda a sua acepção, até como reflexo da divina criação. Sem desnecessárias complicações moralistas. Não, não foi na rua que apreciei as primeiras imagens eróticas. Nunca a mais inquietante beleza feminina me foi apresentada como transgressiva. É que, por detrás da mais espampanante ou provocadora modelo fotográfica, por detrás da mais curvilínea actriz de cinema, há sempre uma pessoa inteira.
Finalmente, apetece-me dizer que antes do advento dos neo-moralistas de inspiração freudiana e da da prosélita “inteligentzia” regimental, havia já uma tradição de boa-educação e de bom-senso.
Mesmo para além (ou aquém) da religião. Não misturemos, pois, as coisas.
Etiquetas: Crónicas, Post intimista