terça-feira, setembro 25, 2007

Estações fora de horas

As vidas foras de horas têm que se lhes diga. Isto a propósito de um post antigo que transcrevo para o Corta-Fitas. Uma destas noites, nos arredores de Lisboa, a fila no exterior do guichet da estação de serviço era imensa e a clientela a mais variada para as compras do costume: cigarros, cervejas, embalagens de leite e claro, combustível, quase sempre muito pouco. Junto ao vidro chegavam-nos vozes azedas para com o funcionário que afanosamente ia e vinha até junto do cliente. (Imaginem agora as deixas para a plateia sempre que o rapaz se afastava...). Entretanto, a malta cá fora dividia-se entre sentimentos de indignação para com a incompetência do empregado e a falta de educação daquele comprador intolerante. Nós estavamos obviamente do lado do rapaz que zelosamente procurava despachar aquele exigente pedido fora de horas. O pedido? Ah, sim! Comida para gato.

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Um outro mundo, as estações de serviço fora de horas. Falo daqueles estabelecimentos com pré-pagamento, onde se vende gasolina, bebidas, pão, congelados, jornais, revistas e até comida para animais. Certamente saberão do que estou a falar. Em Lisboa há algumas deste género, que dão um grande jeito de dia para um litro de leite ocasional ou uma embalagem de queijo. À noite, pertencem a outro tipo de pessoas. Principalmente frequentadas por noctívagos sem gasolina, mas sobretudo procuradas para compra de cervejas ou cigarros, sem acesso ao interior, todas estas transacções se fazem através de um vido, sem qualquer contacto com o paciente funcionário.
Acredito que estejam todas vigiadas por câmaras, o que, apesar de dar uma certa segurança não nos impede de sentir algum receio. Muitas vezes são miúdos ou maduros em estado alcoolizado ou com vontade de ficar, a avaliar pela quantidade de álcool que levam nos sacos. Outras vezes são solitários, com noites longas, a quem se acaba a companhia da cerveja e dos cigarros. São também locais para taxistas, funcionários com turnos nocturnos, local de passagem entre um bar e outro, viajantes que chegam com frigoríficos vazios, uma última paragem, uma necessidade.

Sejam quais forem as circunstâncias (creio nunca ter lido nada sobre isto) e do pouco que conheço, se terão ou não alguma clientela fixa, lá estão eles, sempre abertos a produtos de última hora, ou melhor, fora de horas.
Quando os vejo partir ao volante, de voz entaramelada e com passo incerto, fica por ali um amargo sentimento de impotência e comigo um aperto no coração. À nossa frente, um jovem casal de namorados leva uma noite cheia de precauções, funcionários de uniforme recolhem a casa com cigarros e chocolates e um cavalheiro pede uma revista com capa de corpo inteiro.
A todos, uma boa noite.