Carlos Charmeur
Não era apenas o cantor que encaixava que nem uma luva na categoria de «improvável», a qual dá o mote aos concertos intimistas no bar do Maria Matos. A assistência também. Havia balzaquianas estupendaças e Tavares Moreira, Rui Veloso e Nicolau Santos, eu e a Inês Serra Lopes no mesmo espaço, coisa que não acontecia há muitos anos graças a Deus. O cantor? Carlos Tavares. Nortenho, benfiquista, presidente da CMVM e um crooner à maneira mesmo quando a voz não acompanhava as emoções reveladas na expressão da face e o gesticular da mão livre do microfone. Estavam lá televisões que registaram o momento e não me deixam mentir: Para além das qualidades como entertainer, intercalando o reportório com pequenos apontamentos da sua vida (o conjunto paterno que ensaiava em casa, a sua passagem pelo Zip Zip) Carlos Tavares é um baladeiro nato. Safou-se muito bem em músicas como «Manhã» de Pedro Abrunhosa ou a interpretar Roberto Carlos no nosso português. Claudicou em músicas de Vitorino e João Gil (que também lá estava) porque o registo pedia um tom que não era o dele, por mais que se esforçasse. Mas ao vê-lo convicto a entoar o refrão «Matei, matei corações» ou a proferir tiradas como «nem à força da lei a rádio passa música portuguesa» senti que já tinha valido a noite. Ou pelo menos metade dela, dado que saí no intervalo. A minha cadeira estava por demais cobiçada e havia senhoras em pé. Cavalheiros como eu não permitem que isso aconteça e muito menos a balzaquianas estupendaças. Posso não ser tão charmoso como o intérprete e desafinar muito muito mais, mas ainda tenho maneiras.