Ceder na Madeira para ganhar o País? (I)
Um dos aspectos mais interessantes da blogosfera é permitir-nos dialogar serenamente com interlocutores com boa capacidade argumentativa. Reedita-se aqui, por exemplo, o espírito das antigas polémicas que dominaram a idade de ouro dos jornais e que parecem irremediavelmente em crise, (mal) substituídas pela estridência televisiva que pouco ou nada favorece a reflexão. Vem isto a propósito da troca de argumentos que venho mantendo com o Paulo Gorjão, que não parece impressionado com os sucessivos desaires estratégicos de Marques Mendes - o maior dos quais levou o PSD a perder de forma humilhante a câmara de Lisboa. O que mais me chocou no comportamento político do líder social-democrata, lembro, foi o seu recente alinhamento com Alberto João Jardim no Chão da Lagoa, contrariando os princípios de regeneração que apregoou desde o início do mandato. Diz o Paulo que Mendes se limita a reproduzir o comportamento de líderes anteriores (excepto Cavaco Silva e Santana Lopes, por motivos diferentes). É certo. Mas parece-me que Mendes tinha a obrigação de se demarcar das anteriores lideranças precisamente no caso madeirense, que prejudica todo o discurso crítico que o partido vem desenvolvendo no continente, em denúncia sistemática da "claustrofobia democrática". A Madeira constitui a parcela do território nacional onde essa claustrofobia é mais evidente, o que enfraquece toda a lógica discursiva do presidente social-democrata, que chegou ao ponto de chamar "grande líder" a Jardim. Talvez esteja muito enganado, mas não creio que se possa ganhar o País com cedências deste género no Funchal.