Ceder na Madeira para ganhar o País? (II)
Argumenta ainda Paulo Gorjão com a existência de uma implacável oposição interna para justificar as fragilidades de Marques Mendes. É um bom argumento. Mas não me parece que essa oposição seja mais vociferante do que foi o próprio Mendes nas suas duras críticas primeiro a Durão Barroso (que sabiamente o levou para o Governo) e depois a Santana Lopes. Não nego que estivesse então cheio de razão, mas admito que à actual oposição interna também não faltem motivos para criticar o líder social-democrata. Desde logo por este simples facto: não me lembro de um só debate parlamentar em que Mendes tivesse superado José Sócrates - e ninguém dirá que seja por falta de experiência como tribuno. Assisti a quase todos esses debates e saí de lá sempre com a mesma sensação: Sócrates prepara-se muito melhor do que Mendes para um confronto tão decisivo e com tanto impacto mediático.
Bem sei que o papel da oposição é mais difícil. Mas até por isso a preparação de quem a protagoniza deve ser maior. Não é isso que se tem visto. Pelo contrário, de cada vez que vai ao Parlamento Sócrates sai de lá reforçado politicamente - porque congrega as suas hostes e divide (ainda mais) a oposição à direita. Dir-se-á: Mendes tem um grupo parlamentar em grande parte hostil, que foi escolhido por Santana. Mas sabia bem ao que ia quando avançou em 2005. E se a sua prestação em São Bento fosse melhor certamente isso teria contribuído para acentuar a sua autoridade em vez de a diluir. Desde logo já há muito devia ter imposto uma regra aos seus deputados: é inaceitável que continuem a propiciar ao País o confrangedor espectáculo de se ausentarem em massa do hemiciclo, deixando a bancada laranja sistematicamente vazia nos dias dos grandes debates. Ao menos na Madeira, onde impera o "grande líder", as coisas não se passam assim...