sábado, junho 16, 2007

Nomes e apelidos

Por conveniência social, desde pequeno me habituei a um atitude de prudente discrição quanto aos meus apelidos e ascendência. Sempre promovi o meu nome de baptismo como prioritária forma de tratamento, para uma mais sã sobrevivência numa sociedade de ressentida bimbalhada ou provincianos bajuladores. Precocemente contactei com esta “mui republicana” cultura, por ocasião da minha passagem pela cinzentíssima escola primária da câmara onde adquiri uma epidérmica embirração ao tratamento pelos apelidos. Não raro o meu nome se tornava alvo de jocosas ou imbecis provocações, as mais das vezes algo antipáticas e subtis agressões às quais (por força das instintivas defesas) rapidamente me tornei indiferente. Curioso é constatar que os preconceitos provinham mais comummente dos zelosos e cinzentos funcionários do regime, (professores ou contínuos) do que das cruéis criancinhas com quem eu ombreava em busca de um lugar ao sol, se possível a jogar à bola.
Vem esta conversa toda a propósito de uns comentários (nem sempre censurados) que têm surgido ultimamente, pretendendo que o nome do Sebastião José seja motivo de chacota para mim, um simples Távora. Então, permitam-me por uma vez abordar aqui questões de genealogia, ciência de que percebo pouco, mas o suficiente para saber que possuo tanto sangue Távora quanto Carvalho e Melo. Para isso bastou o casamento dos meus pais. Para não ir falar de outras mais antigas ligações entre as duas casas (a celebre história do "Bichinho de Conta"). De resto, quanto às ditas provocações, apetece-me dizer que pior que o mau gosto, só mesmo a ignorância.
De resto, talvez se os portugueses dedicassem tanto tempo a conhecer descomplexadamente a história da sua família, a sua "primeira tribo", quanto a bisbilhotar ressentidamente a vida dos outros, fosse a maneira de evoluirmos como povo. A auto-estima constrói-se com a pertença e o conhecimento, não com a ignorância ou efabulação.

Etiquetas: