sábado, junho 16, 2007

Os tugas (21)


As marquises. As eternas marquises. As inevitáveis marquises. As inenarráveis marquises lusas. Mal "compra uma casa" (quer dizer, mal se endivida até ao tutano a uma entidade bancária para adquirir um T-2 que três décadas mais tarde será propriedade sua se Deus quiser), Chico dos Anzóis fecha a varanda. Fecha as duas varandas, se as houver. Fica com uma marquise - ou com um par de marquises. Para evitar as "correntes de ar". Para evitar o sol "abrasador". Para depositar a enferrujada bicicleta que não voltará a ter selim, uns cacos velhos, três vasos com sardinheiras e uma quantidade infindável de pó doméstico.
Chico dos Anzóis desce à rua em fato de treino com o emblema do Benfica, de braço dado com a sua Maria Jaquina, rumando ao carro estacionado em cima do passeio que os transportará ao centro comercial. Levantam ambos os olhos para o andar onde residem. Enlevados. Orgulhosos da sua marquise com os reposteiros corridos para evitar que a indiscreta vizinhança deite os olhos aos vasos de sardinheiras e à colecção de cacos. Marquise em vidro fosco, igual às outras marquises todas da rua, do bairro, da povoação, da Tugalândia em geral.
País de marquises. Inimigo das varandas, da aragem e do sol. É bem-feito que a chuva não pare hoje de cair.