Cavaco e Sócrates
Neste quase ano e meio que leva em Belém, Cavaco Silva tem levado ao extremo a conhecida máxima do general Franco: “Somos escravos das nossas palavras e donos do nosso silêncio.” Pelo silêncio, Cavaco tem marcado a agenda política. A tal ponto que os bons índices de que o Governo goza em sucessivas pesquisas de opinião devem-se, em boa parte, à conivência tácita do Presidente, aparentemente apostado em prosseguir sem mácula a boa relação institucional com o primeiro-ministro. Mas esta medalha tem o seu reverso. Ninguém tenha dúvidas: no dia em que Cavaco começar a tornar públicas as suas divergências de opinião com José Sócrates em questões fundamentais, a popularidade do Executivo virá a pique. Estando as coisas como estão, em caso de conflito entre Belém e São Bento só o primeiro-ministro ficará a perder. O que deixa, de algum modo, Sócrates nas mãos de um Chefe do Estado que não escolheu e em quem não votou.
Dono do seu silêncio até 31 de Dezembro de 2007, data em que termina a presidência portuguesa da União Europeia, Cavaco conserva uma margem de manobra de que nenhum outro agente político dispõe em Portugal. Esta é a verdadeira “magistratura de influência”. Daqui a um ano se entenderá melhor por que motivo o Presidente está hoje tão calado.
Dono do seu silêncio até 31 de Dezembro de 2007, data em que termina a presidência portuguesa da União Europeia, Cavaco conserva uma margem de manobra de que nenhum outro agente político dispõe em Portugal. Esta é a verdadeira “magistratura de influência”. Daqui a um ano se entenderá melhor por que motivo o Presidente está hoje tão calado.
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Adenda: Subitamente, Sócrates começa a ouvir os primeiros apupos públicos. Aconteceu em Setúbal, no Dia de Portugal. E Cavaco, até ao momento, limitou-se a exprimir algumas reservas tímidas sobre o megaprojecto da Ota. Imagine-se o que acontecerá quando engrossar o tom do seu discurso...