Ser pobre é normal?
O número divulgado por Alfredo Bruto da Costa é assustador: 47 % das famílias portuguesas passaram por uma situação de pobreza e metade das famílias viveram pelo menos um ano em estado de pobreza. Esta notícia difundida pela Agência Ecclesia sintetiza bem as afirmações expressas pelo presidente do Conselho Económico e Social. A «normalização da pobreza», a sua escamoteação por uma sociedade orientada para o culto do bem-estar, leva um terço dos inquiridos num inquérito a associar ser pobre à falta de sorte. A um fado. A um destino inelutável porque é mesmo assim e «o que há-de a gente fazer»? «Uns têm tudo e outros não têm nada». A situação não se agravou, ainda por cima. Também não melhorou. Parece ter-se tornado uma constante da vida, embora nada colorida.
Os «tugas» a sério são estes. Os pais e mães de família que esbracejam desesperadamente todos os dias de cada mês para se manterem à tona da água. Os que têm filhos e fazem contas a cada pacote de fraldas e cada lata de leite em pó. A cada novo ano escolar, a tanta coisa que é necessária e a tantas mais que parecem indispensáveis mas não o são, numa sociedade que se alimenta do supérfluo para depois o regurgitar. E também os outros, os que estão sózinhos e vivem das reformas e com elas enfrentam o aumento constante dos bens mais essenciais de consumo, a começar pelo escandaloso preço do pão.
Metade das famílias portuguesas é metade de Portugal. A «persistência da pobreza é uma acusação moral dos nossos tempos», diz Bruto da Costa. O que podemos fazer, nós os que pertencemos à outra metade, para nos defendermos?