Louvor às rotinas e aos rituais
Sou uma pessoa basicamente indisciplinada e logo assim bastante desorganizada. Quando era miúdo, lembro-me bem, só não perdia a cabeça porque estava agarrada. E assim se manteve até hoje nem sei bem como. Então a minha cabeça voava, voava. Sempre fui um sonhador, um idealista, com traços de meio poeta. Focado numa qualquer paixão de circunstância, perdia-me facilmente. Estas características cedo me guiaram ao caos. Até ao liceu não me lembro de ter agendado um teste e estudar a sério o que fosse. Cada um era uma surpresa aterrorizadora, descoberta no corredor antes de entrar para a aula. As minhas notas eram imprevisíveis. Era capaz do melhor e do pior. Vesti muitas meias desemparelhadas, perdi documentos importantes, cadernos, livros e até deixei a minha mochila viajar sozinha de autocarro até ao Bairro Madre de Deus. Chegado ao auge da adolescência, com as experiências inerentes ao estatuto, com as borgas mais ou menos alcoólicas ou psicadélicas, o caos chegou ao rubro. Por essa altura experimentei uma precoce e traumática experiência laboral, como paquete de uma conhecida empresa de promoção de torneios desportivos. Resultado: depois de várias broncas e humilhações descobri que só havia uma maneira de sobreviver no mundo concreto real e cruel: pousar os pés no chão e organizar-me. Foi duro e levou muito tempo.
Hoje, passada a tormenta e digamos que bem sucedido, considero-me um homem feliz em grande parte graças às rotinas que afincadamente criei, e aos rituais que aprendi a referenciar. Hoje, deixo o telemóvel no mesmo sítio todos os dias. A carteira e os meus pertences apenas em caso de catástrofe não estarão no sítio previsto. Doeu muito mas hoje sou surpreendentemente organizado, quase como um computador (a minha descoberta dos computadores foi determinante para a minha organização mental). O meu telemóvel ou o portátil apitam sempre quando tenho uma reunião ou outro compromisso. Ou quando um familiar ou amigo faz anos. Desta forma ainda não falhei um aniversário de casamento. Raras vezes chego atrasado a algum sitio. Com o tempo aprendi a dominar o tempo. Deito-me a horas e levanto-me com as galinhas. Com um sempre delicioso café, sempre à mesma hora, com os previsíveis (e também às vezes deliciosos) programas familiares, um trabalho exigente e cansativo, levo afinal uma vida bastante previsível. Quando faço uma noitada fico quase dois dias doente.
Hoje sou o mais certinho dos seres vivos. Convicto, contente e sem arrependimento. Agora, promovo animadamente os rituais e rotinas, como se fossem as linhas e as margens de um caderno onde escrevo a minha vida. Que inspiram e suportam segurança e um projecto de vida. Rotinas e rituais que afinal são garantia de liberdade... proporcionando por vezes umas boas fatias de pacíficos tempos livres. Que servem até para com eles eu quebrar uma sólida rotina e falhar algum importante ritual.
Hoje, passada a tormenta e digamos que bem sucedido, considero-me um homem feliz em grande parte graças às rotinas que afincadamente criei, e aos rituais que aprendi a referenciar. Hoje, deixo o telemóvel no mesmo sítio todos os dias. A carteira e os meus pertences apenas em caso de catástrofe não estarão no sítio previsto. Doeu muito mas hoje sou surpreendentemente organizado, quase como um computador (a minha descoberta dos computadores foi determinante para a minha organização mental). O meu telemóvel ou o portátil apitam sempre quando tenho uma reunião ou outro compromisso. Ou quando um familiar ou amigo faz anos. Desta forma ainda não falhei um aniversário de casamento. Raras vezes chego atrasado a algum sitio. Com o tempo aprendi a dominar o tempo. Deito-me a horas e levanto-me com as galinhas. Com um sempre delicioso café, sempre à mesma hora, com os previsíveis (e também às vezes deliciosos) programas familiares, um trabalho exigente e cansativo, levo afinal uma vida bastante previsível. Quando faço uma noitada fico quase dois dias doente.
Hoje sou o mais certinho dos seres vivos. Convicto, contente e sem arrependimento. Agora, promovo animadamente os rituais e rotinas, como se fossem as linhas e as margens de um caderno onde escrevo a minha vida. Que inspiram e suportam segurança e um projecto de vida. Rotinas e rituais que afinal são garantia de liberdade... proporcionando por vezes umas boas fatias de pacíficos tempos livres. Que servem até para com eles eu quebrar uma sólida rotina e falhar algum importante ritual.