Louvor às rotinas e aos rituais
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Hoje, passada a tormenta e digamos que bem sucedido, considero-me um homem feliz em grande parte graças às rotinas que afincadamente criei, e aos rituais que aprendi a referenciar. Hoje, deixo o telemóvel no mesmo sítio todos os dias. A carteira e os meus pertences apenas em caso de catástrofe não estarão no sítio previsto. Doeu muito mas hoje sou surpreendentemente organizado, quase como um computador (a minha descoberta dos computadores foi determinante para a minha organização mental). O meu telemóvel ou o portátil apitam sempre quando tenho uma reunião ou outro compromisso. Ou quando um familiar ou amigo faz anos. Desta forma ainda não falhei um aniversário de casamento. Raras vezes chego atrasado a algum sitio. Com o tempo aprendi a dominar o tempo. Deito-me a horas e levanto-me com as galinhas. Com um sempre delicioso café, sempre à mesma hora, com os previsíveis (e também às vezes deliciosos) programas familiares, um trabalho exigente e cansativo, levo afinal uma vida bastante previsível. Quando faço uma noitada fico quase dois dias doente.
Hoje sou o mais certinho dos seres vivos. Convicto, contente e sem arrependimento. Agora, promovo animadamente os rituais e rotinas, como se fossem as linhas e as margens de um caderno onde escrevo a minha vida. Que inspiram e suportam segurança e um projecto de vida. Rotinas e rituais que afinal são garantia de liberdade... proporcionando por vezes umas boas fatias de pacíficos tempos livres. Que servem até para com eles eu quebrar uma sólida rotina e falhar algum importante ritual.