quinta-feira, maio 17, 2007

As eleições de Lisboa


Ainda a procissão vai no adro, mas já parece evidente que as eleições de Lisboa vão mudar o cenário político. Os dois maiores partidos registam crescente dificuldade em manter a unidade. O PSD tem problemas adicionais, pois a sua divisão ameaça tornar-se permanente. A questão pode estar relacionada sobretudo com o afastamento do poder e rivalidades internas, mas penso que pode ser mais grave: trata-se da ausência de ideologia e, portanto, de argamassa. O PSD anda à procura de ideias e não encontra as causas que levam as pessoas a votar num partido. Com a derrota que se adivinha em Lisboa, (o candidato não é mau, é péssimo) Marques Mendes terá a sua liderança muito ameaçada.
Os problemas da direita vão mais longe. Na luta pelo poder dentro do CDS, o então presidente do partido avisou que dificilmente o eleitorado votaria em 2009 naqueles que perderam em 2005. A frase ameaça tornar-se profética. Após ter sido copiosamente derrotado na Madeira, Paulo Portas prepara-se para ser irrelevante nas eleições de Lisboa.
As dificuldades à esquerda são também visíveis, mas penso que terão efeitos apenas a médio prazo. O aparecimento da candidatura de Helena Roseta, depois do que se passou nas presidenciais, revela que o PS tem uma crise inversa da do PSD: ali, a questão é ideológica e promete uma divisão a prazo. Se o PS não estivesse no poder, os problemas seriam bem mais sérios e a ala esquerda já teria feito estragos.
Nestas eleições, continuaremos a ver a luta entre Bloco e PC, com vantagem para os segundos.
A capital é um dos mais importantes centros de poder do País. António Costa tem todas as condições para vencer a eleição, sobretudo se conseguir manter o debate nas questões de Lisboa. Por outro lado, faltam dois anos para as legislativas e a direita já não tem muito tempo para se reorganizar. O Bloco, para sobreviver, terá de entrar em outras questões, na ecologia, por exemplo, mas também ganhar mais eleitorado na ala esquerda do PS, aproveitando o descontentamento com as políticas de José Sócrates. No CDS, dificilmente será esquecida a luta interna, uma verdadeira vitória de Pirro para Paulo Portas. E o PCP, de forma paradoxal, resiste nas bases, sonhando com o dia em que será crucial para formar um governo de esquerda.

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