quinta-feira, maio 10, 2007

Estrelas de cinema (7)


BABEL *****
A grande injustiça da noite dos Óscares de 2007 (confirmei agora) foi o facto de esta longa-metragem ter ficado ofuscada na corrida às principais estatuetas pela vitória de Entre Inimigos – uma fita menor do grande Martin Scorsese. Babel – filme maior do mexicano Alejandro González-Iñárritu – é um fabuloso retrato do nosso tempo. Um tempo marcado pela angústia, pela incerteza, pela indefinição, pela aparente dissolução dos laços sentimentais, pela consciência clara de que o velho mundo morreu e o novo que vai emergindo tem contornos ainda obscuros. Falado em quatro idiomas (inglês, castelhano, árabe e japonês), faz jus ao título com este singular toque de originalidade, destinado a sublinhar que continua a ser muito mais o que nos divide do que o que nos une apesar dos apelos politicamente correctos em defesa de um mundo sem fronteiras. Que pode haver de comum entre o viúvo japonês de classe média-alta residente em Tóquio e o humilde pastor marroquino que cria cabras entre cardos? Babel fala-nos disto. E também dos subtis traços de união entre fenómenos que à partida ninguém diria interligados. Nada acontece por acaso.
O filme de Iñárritu é muito bom pelo argumento, pela narrativa, pela montagem, pela banda sonora. E também pela excelente qualidade dos seus intérpretes, com destaque para a japonesa Rinko Kikuchi e a mexicana Adriana Barraza, que ombreiam com a nata de Hollywood, representada nesta película por Cate Blanchett e Brad Pitt. Há aqui amor ao cinema. A um cinema ancorado no real – um cinema com poeira e lágrimas e suor e sangue. Nada de academismos decorativos: o compromisso de Babel é com a arte. Mas também com a vida.