Homens (2)
Com um brilhozinho nos olhos
Perto de minha casa há uma florista. A avaliar pelo entra-sai, há muita clientela a comprar flores(e a que preços!). Mas hoje, não é a clientela no geral que me interessa. São os homens. Reparo com atenção quando saem com os seus ramos de flores (gostam muito do rosas, os cavalheiros), com alguma timidez, embaraço, sem jeito, a atravessar a rua em passo de corrida, pode ser que ninguém os veja, Deus queira que ninguém os aborde. O homem com quem hoje me cruzei, por exemplo, com um valente ramo de flores, quase que poderia dizer que sorria. Um sorriso apertado, envergonhado, indecifrável, mas era um sorriso. Como se o acto de transportar aquele ramo não estivesse na sua natureza, receoso que alguém lhe adivinhasse os pensamentos, o destinatário, lhe descobrisse a intenção, lhe capturasse o momento. No entanto, aquele homem sem jeito e possivelmente sem hábitos de florista, sorria. Aquelas flores tinham uma história, talvez fossem o início ou o mais um momento de uma história. Um romance, pensei logo. Um ramo de flores para fazer alguém feliz. E quando o homem se cruzou comigo, percebi que a felicidade era também aquele momento. Onde estarão agora aquelas flores? Abandonadas, espero, mas não esquecidas. Como lhes compete.
Com um brilhozinho nos olhos
dissemos sei lá
o que nos passou pela tola
do estilo: és o number one
dou-te vinte valores
és um treze no totobola
e às duas por três
bebemos um copo
fizemos o quatro e pintámos o sete
e com um brilhozinho nos olhos
ficámos imóveis
a dar uma de tête a tête
.Perto de minha casa há uma florista. A avaliar pelo entra-sai, há muita clientela a comprar flores(e a que preços!). Mas hoje, não é a clientela no geral que me interessa. São os homens. Reparo com atenção quando saem com os seus ramos de flores (gostam muito do rosas, os cavalheiros), com alguma timidez, embaraço, sem jeito, a atravessar a rua em passo de corrida, pode ser que ninguém os veja, Deus queira que ninguém os aborde. O homem com quem hoje me cruzei, por exemplo, com um valente ramo de flores, quase que poderia dizer que sorria. Um sorriso apertado, envergonhado, indecifrável, mas era um sorriso. Como se o acto de transportar aquele ramo não estivesse na sua natureza, receoso que alguém lhe adivinhasse os pensamentos, o destinatário, lhe descobrisse a intenção, lhe capturasse o momento. No entanto, aquele homem sem jeito e possivelmente sem hábitos de florista, sorria. Aquelas flores tinham uma história, talvez fossem o início ou o mais um momento de uma história. Um romance, pensei logo. Um ramo de flores para fazer alguém feliz. E quando o homem se cruzou comigo, percebi que a felicidade era também aquele momento. Onde estarão agora aquelas flores? Abandonadas, espero, mas não esquecidas. Como lhes compete.
Com um brilhozinho nos olhos
dissemos sei lá
o que nos passou pela tola
do estilo: és o number one
dou-te vinte valores
és um treze no totobola
e às duas por três
bebemos um copo
fizemos o quatro e pintámos o sete
e com um brilhozinho nos olhos
ficámos imóveis
a dar uma de tête a tête
(Já editado)