Ontem à noite na cidade
Não gosto de automóveis na cidade. No campo também não. Sou uma espécie de Manuel João Ramos mais radical e com posters da EMEL no quarto e só me desloco, no dia a dia, de táxi ou transportes públicos. Não tenho carta de condução e nunca a terei. Se porventura a tivesse e comprasse um carro seria um «boca de sapo» (pelo design) ou um daqueles Volvo antigos que parecem cortados à faca de linhas tão direitas que têm e tão sólidos que ai daqueles que se lhe meterem à frente. Só para perceberem o meu grau de insanidade e que não sei quanto custa um litro de gasolina.
Dito isto, gostei de ouvir ontem o Arq. Manuel Salgado. Embora ele tenha afirmado que o projecto não se resume a uma nova lógica viária para a cidade, pareceu-me que tudo o resto - a parte da requalificação propriamente dita - era assim a modos que utópica. Pede demasiada coordenação entre CML, APL, Ministérios e outras entidades para aquela que existe, e que é nenhuma. Não inclui o Bairro Alto, o que é uma pena, mas prevê a transformação da zona do Terreiro do Paço num «centro tecnológico» com reforço das estruturas de lazer e a captação de «indústrias criativas». Para além disso, a ideia era - ou é ainda, porque Salgado acredita que o projecto não morreu antes ficou comprometida a sua associação ao centenário da República -diminuir substancialmente na «cidade antiga» o tráfego automóvel que hoje a atravessa, por ausência de alternativas à circulação. Isso foi música para os meus ouvidos. Só tenho pena que, ao contrário dele que se diz um optimista, eu não o seja. Pelo menos no que respeita à nossa Polis.