Estrelas de cinema (6)
O CAIMÃO * *
Dizem-me que esta fita ajudou a derrubar Silvio Berlusconi nas legislativas italianas do ano passado. Se foi assim, o mérito dela reside sobretudo nisto. Já quanto ao mérito cinematográfico, tenho as maiores dúvidas. O Caimão, de Nanni Moretti, é um filme que nunca se decide entre o registo de comédia e o de panfleto político. No primeiro, é francamente desequilibrado: a personagem principal, um ridículo produtor cinematográfico, jamais gera empatia com os espectadores e o Berlusconi que aqui vemos não vai além de um esboço caricatural. Como panfleto, não ultrapassa a mediania: falta-lhe ao menos a irrisão cabotina de um Michael Moore. Pior que isso: tropeça na tentação da retórica pregoeira que fez soçobrar cineastas de muito maior fôlego, incluindo Chaplin na célebre cena final do seu O Grande Ditador. Cada vez me convenço mais, aliás, que Moretti é francamente superior no drama do que na comédia: nenhum outro título da sua obra tem a trágica intensidade e a densidade artística d' O Quarto do Filho, um dos melhores filmes desta década. Na comédia, os grandes mestres italianos continuam a ser Dino Risi e Mario Monicelli – e ambos, infelizmente, já deixaram de filmar.