segunda-feira, abril 16, 2007

Momento semi-tablóide


Demorei algum tempo a ler a entrevista que a Margarida Rebelo Pinto deu à última Tabu. Eu gosto da Margarida. Em outra vida, fomos amigos e depois deu-me uma coisinha má e, bem, vocês sabem como estas coisas geralmente acontecem: Portei-me inconvenientemente. Ou, como ela me disse anos depois, «deixei-me apaixonar pelas palavras». E posso dizer-vos que tenho pena de termos deixado de falar-nos. Tínhamos conversas muito interessantes à mesa do Frascatti (acho que é assim com dois tês) e, geralmente, as trocas de confidências eram tão saborosas quanto o ossobuco da casa.
A Margarida passou da publicidade para os jornais, numa altura em que um editor não podia ver um bom par de pernas sem ficar taralhoco. Nesse tempo, imaginem, havia poucas mulheres nas redacções e as que havia, benza-as Deus, não tinham nem as pernas nem os olhos da Margarida. Ela aturou muita coisa, é o que vos digo.
Durante anos, não desistiu de prosseguir um objectivo: Viver daquilo que escrevia. Alcançou-o, e só não digo que o ultrapassou porque seria redutor. Não me interessa discutir aqui a sua qualidade literária. Nas prateleiras de uma livraria há espaço para tudo e há, também, espaço para os seus livros e leitores que os compram e apreciam, como ficou mais do que provado nos últimos anos. Sobre a entrevista, só não gostei de a ver mencionar depreciativamente «um tal de Augusto Abelaira». A Margarida é mais inteligente do que isso e tenho a certeza de que, se não gostou de «A Cidade das Flores», ainda vai gostar um dia. Pelo menos prefiro pensar que sim.
Acrescento em jeito de desculpa informal: Não pretendia, linhas acima, generalizar de forma tão radical. Provavelmente havia muitas outras mulheres nas redacções com atraentes pares de pernas. A essas o meu humilde pedido de perdão.

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