A verdade a que temos direito
Tive mais que fazer no fim de semana do que seguir a agitação em Santa Comba Dão (olha, rimou!). Parece que António Costa Pinto disse que a casa-museu servirá para ficarmos a saber como o homem passava as suas férias de Verão e Pedro Hespanha que «falar de Salazar já não envergonha». O pessoal de Santa Comba acha que eles é que decidem onde gastar o dinheiro e que António Oliveira era «um filho da terra» (já lhe chamaram coisas piores). Houve uns jovens com nítidos problemas hormonais por resolver que esticaram os braços e resistentes anti-fascistas com bastante tempo livre que empunharam cravos.
Portugal, no seu melhor, transparece nas palavras do esclarecido santacombadense António Santos: «No tempo dele, mesmo com a ditadura, não havia tanto crime e tanta droga». Tudo isto é ridículo, num país que não discute nem nunca discutiu de forma aberta o seu passado recente. A nossa História oscila entre as versões de regime de Fernando Rosas e de José Mattoso. Entre os vivos, quem não sabe fala, quem sabe cala. Pessoas com 40 aninhos como eu ignoram, porque dispõem de escassos testemunhos directos e documentos, o que verdadeiramente se passou com o colaboracionismo, com a guerra intestina entre o PC e a restante esquerda, com a morte de Delgado, com a guerra colonial nas diversas frentes, com o 25 de Abril, a descolonização, o PREC e o que se lhe seguiu, com as FP-25 e etc e etc.
A geração que nos antecedeu, a mesma que descreveu os acontecimentos como quis e a seu belo prazer, guarda os seus esqueletos no armário, as provas documentais em bom recato - não vão servir ainda para mais do que já serviram - e a roupa suja na gaveta da cómoda. Depois queixa-se que se estendam os bracinhos.