sábado, março 03, 2007

Videoteca (2)


Eles Andam Aí


Não estamos sós no Universo. Isto pode não ser novidade para quem há muito desistiu de estacionar em Campo de Ourique, mas nem por isso é menos difícil de engolir. Até muito recentemente, tínhamos problemas em aceitar como credíveis os relatos dos amigos assediados por venusianas ou os postais que enviavam de Alfa Centauro. A tendência era culpar o excesso de mezcal. Agora, no entanto, chegou até nós este Homens de Negro, destinado a comprovar que não só os objectos voadores são identificados como, inclusive, obrigados a inspecções periódicas.
A ingrata tarefa de controlar e admoestar turistas cefalópodes, imigrantes tricéfalos e bivalves clandestinos repousa nas mãos de uma agência governamental, tão discreta e anónima que o próprio governo a desconhece. As criaturas que a compõem, nem todas necessariamente humanóides, são escolhidas a dedo – quando não a tentáculo – entre a nata da galáxia. E Tommy Lee Jones e Will Smith, os agentes K. e J., uma dupla à dimensão das parelhas de Dragnet e O Dueto da Corda (Blues Brothers). Armados de acessórios cool como óculos Ray Ban, um arsenal de canhangulos com imponderáveis efeitos e uma luzinha desmemorizadora, zelam para que Manhattan se mantenha incoerente e igual a si mesma. Isso apesar de a ilha concentrar metade dos cerca dois mil aliens residentes na Terra, muitos deles com licença de taxista.
Logo na sua primeira missão ao lado do veterano J., Will Smith tem uma amostra do que será o seu dia a dia como homem de negro. Ajudar ao parto de uma lula, salvar a Terrra de um insecto no mínimo misantropo, impedir a desintegração do planeta por uma raça de maldispostos e encontrar uma galáxia miniaturizada, a qual serve de fiel da balança entre duas alienígenas nações que não se gramam.
Após a descrição deste ambiente, não deverão restar dúvidas de que Barry Sonenfeld, o autor de A Família Adams e Jogos Quase Perigosos venceu o desafio que lhe era imposto: trazer algo de novo à rebatida saga dos filmes com extraterrestres, dificuldade essa entretanto acrescida com a estreia de O Dia da Independência e Marte Ataca. A sua intenção, realizar «não um filme de acção cómico, mas um filme cómico com cenas de acção», foi levada à prática com a ajuda de um casting conduzido com maestria, do nome e experiência do produtor Spielberg e do potencial quase ilimitado que é apanágio do aparato tecnológico da Industrial Light & Magic de George Lucas.
Com tudo isto, Homens de Negro poderia ter voado muito mais alto e ser o filme de culto que nunca será. O que fica acaba por ser um mais do que satisfatório manancial de piadas, referências e alusões paródicas a uma América tablóide, fascinada pelas suas lendas urbanas. A mesma América que acredita que Elvis não morreu. Apenas voltou para casa. (M.I.B. Homens de Negro)

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