segunda-feira, março 05, 2007

Obras em casa

Refiro-me às obras em casa dos outros, claro. Que as nossas nunca incomodam ninguém, como todos sabemos.
Geralmente chegam às 9 em ponto num Sábado. Começam com umas marteladas e vão gradualmente subindo de tom e de som. Ainda pela fresca, surge o black & decker que, juntamente com as marretas(?), vão ser os nossos maiores inimigos nos próximos dias. Por esta altura devemos estar na fase das paredes, louças de cozinha e casa de banho. Calculamos nós. Há-de passar-se a outros níveis, nomeadamente, o soalho e as novas canalizações. Dois dias depois deste inferno, audível por todo lado, suspiramos por ir trabalhar, sair de madrugada e regressar após a saída dos homens das obras, transformados em peles-vermelhas ou mesmo brancas, dependendo da nova cor das paredes.
Os proprietários mais gentis têm o cuidado de colocar um papelinho na entrada do prédio ou nas caixas de correio da vizinhança a pedir desculpas pelo incómodo causado. No entanto, quando o pó começa a entrar, espalhando espessas camadas cinzentas por todo o lado, essa gentileza é rapidamente esquecida para dar lugar a ruidosos insultos abafados pelo ritmo dos martelos e de outros inomináveis instrumentos.
Por altura da instalação dos novos móveis da cozinha, já ninguém cumprimenta os proprietários. Os mais gentis, acabrunhados com a situação, vão sossegando a vizinhança com a brevidade da conclusão dos trabalhos. Os outros, os mesmos que não despejam o lixo e deixam sempre a porta da rua aberta, são votados ao ostracismo ou à retaliação do elevador.
Quando as obras terminam e o silêncio regressa ao alegre remanso dos lares, sobra o entulho à porta. Desconfio que ainda lá está.