Os portugueses são uns mentirosos (I)
Os portugueses mentem muito. Mentem naquilo em que os outros povos mentem. Escondendo a idade, tentando aparentar um estatuto social superior ao que realmente têm, narrando pormenores imaginários ou escamoteando aspectos da sua vida sexual, dando largas a um notável espírito ficcionista quando se trata do estatuto remuneratório.
Mas, mais do que em relação ao sexo ou ao dinheiro, os portugueses mentem em relação ao voto. Neste aspecto, creio bem, trata-se de uma verdadeira originalidade. Sem paralelo noutros povos europeus.
Abstencionistas militantes, os portugueses jamais assumem que são preguiçosos de mais ou desinteressados de mais para virarem costas às urnas: é raro arrancarmos a alguém a confissão de que prefere trocar uma ida à praia, ao cinema ou ao centro comercial por uma deslocaçãozinha à assembleia de voto. No máximo dirão: “Para mim, são todos iguais. Vou lá, mas voto em branco.”
Como sabemos, quase nenhum português vota em branco: isso seria ter o mesmo trabalho a troco de prazer nenhum. Entregar na urna o boletim em branco é uma espécie de coito interrompido. Que eu saiba, só Manuel Monteiro fez isso uma vez, de caneta na mão, fingindo que votava em Paulo Portas para líder parlamentar do CDS – e arrependeu-se amargamente. Dá sempre algum gozo escrever qualquer coisa no boletim, nem que seja para o tornar nulo.
Na altura, também Monteiro mentiu sobre o voto. Não admira: é português.
Mas, mais do que em relação ao sexo ou ao dinheiro, os portugueses mentem em relação ao voto. Neste aspecto, creio bem, trata-se de uma verdadeira originalidade. Sem paralelo noutros povos europeus.
Abstencionistas militantes, os portugueses jamais assumem que são preguiçosos de mais ou desinteressados de mais para virarem costas às urnas: é raro arrancarmos a alguém a confissão de que prefere trocar uma ida à praia, ao cinema ou ao centro comercial por uma deslocaçãozinha à assembleia de voto. No máximo dirão: “Para mim, são todos iguais. Vou lá, mas voto em branco.”
Como sabemos, quase nenhum português vota em branco: isso seria ter o mesmo trabalho a troco de prazer nenhum. Entregar na urna o boletim em branco é uma espécie de coito interrompido. Que eu saiba, só Manuel Monteiro fez isso uma vez, de caneta na mão, fingindo que votava em Paulo Portas para líder parlamentar do CDS – e arrependeu-se amargamente. Dá sempre algum gozo escrever qualquer coisa no boletim, nem que seja para o tornar nulo.
Na altura, também Monteiro mentiu sobre o voto. Não admira: é português.