Factos ao pequeno-almoço
Nesta viagem oficial à China há muitas oportunidades para convívio. Ontem, ao pequeno-almoço, encontrei o Manuel Pinho. Nós os dois temos muitas conversas sobre temas económicos e julgo que o ministro aprecia os meus conselhos e, não raramente, segue-os. Mas, desta vez, reparei que o Manuel estava preocupado.
“Ó Pinho, o que se passa?”, perguntei.
“Tu nem imaginas a minha vida, Zé Nero”, disse ele, visivelmente abalado. “Tenho esta manhã uma conferência e preciso de convencer os chineses a investirem em Portugal, o que não é nada fácil. Não sei se lhes fale do choque tecnológico, se lhes diga que, depois de pôr todas as crianças a falar inglês, vamos pô-las a falar chinês...O MIT? O Sr. Bill Gates?”
“Dá-lhes factos. Os chineses gostam de factos”, atalhei. “Diz-lhes, por exemplo, que temos salários baixos. Com isso, atrais o investimento e ao mesmo tempo promoves a contenção salarial e, consequentemente, da espiral inflacionária nos restaurantes chineses e nas lojas dos 300”.
Dei-lhe o exemplo do meu amigo Ling Ling Qi, que tem um restaurante chinês ao pé de minha casa. Um dia ele disse-me: ‘Zé Nelo, os poltugueses têm salálios de chinês e tlabalham como chinês’. Acho que foi muito acertado. Trabalhamos como chineses e temos salários de chinês, portanto, somos competitivos, à nossa maneira, e não deve ser difícil para um empresário chinês instalar-se lá na nossa terra”.
Vi um brilho surgir nos olhos do ministro, mas rapidamente uma sombra perpassou pelo seu nobre semblante. “Mas não achas que o PS pode criticar? Afinal, ainda somos de esquerda...Da esquerda moderna, mas de esquerda...”
Peguei de imediato no telemóvel e liguei para o Largo do Rato. Atendeu o Vitalino, a quem expliquei a ideia. “Não há dúvida que é um facto”, respondeu. Desliguei e comuniquei ao Pinho a resposta. Fora os sindicatos, a oposição, os jornalistas do costume e alguns clientes habituais do Fórum TSF, toda a gente entenderia o que ele queria dizer.
Ao ouvir isto, o Manuel Pinho ficou muito contente. Parecia que lhe tinha tirado um grande peso de cima dos ombros. Devorou o resto do pequeno-almoço e falou todo o tempo, com extrema alegria. O resto é História. Hoje, toda a gente conhece as vantagens competitivas que temos a oferecer. Quer na China quer em Portugal quer, espero bem, vários empresários que estavam a preparar-se para deslocalizar as suas empresas para o Sri Lanka e para o Uganda. Valeu mais do que não sei quantas campanhas do ICEP a falar da convergência estratégica entre Belém e São Bento.
*José Nero Fontão, directa ou indirectamente, é responsável por 0.00014% das exportações portuguesas
“Ó Pinho, o que se passa?”, perguntei.
“Tu nem imaginas a minha vida, Zé Nero”, disse ele, visivelmente abalado. “Tenho esta manhã uma conferência e preciso de convencer os chineses a investirem em Portugal, o que não é nada fácil. Não sei se lhes fale do choque tecnológico, se lhes diga que, depois de pôr todas as crianças a falar inglês, vamos pô-las a falar chinês...O MIT? O Sr. Bill Gates?”
“Dá-lhes factos. Os chineses gostam de factos”, atalhei. “Diz-lhes, por exemplo, que temos salários baixos. Com isso, atrais o investimento e ao mesmo tempo promoves a contenção salarial e, consequentemente, da espiral inflacionária nos restaurantes chineses e nas lojas dos 300”.
Dei-lhe o exemplo do meu amigo Ling Ling Qi, que tem um restaurante chinês ao pé de minha casa. Um dia ele disse-me: ‘Zé Nelo, os poltugueses têm salálios de chinês e tlabalham como chinês’. Acho que foi muito acertado. Trabalhamos como chineses e temos salários de chinês, portanto, somos competitivos, à nossa maneira, e não deve ser difícil para um empresário chinês instalar-se lá na nossa terra”.
Vi um brilho surgir nos olhos do ministro, mas rapidamente uma sombra perpassou pelo seu nobre semblante. “Mas não achas que o PS pode criticar? Afinal, ainda somos de esquerda...Da esquerda moderna, mas de esquerda...”
Peguei de imediato no telemóvel e liguei para o Largo do Rato. Atendeu o Vitalino, a quem expliquei a ideia. “Não há dúvida que é um facto”, respondeu. Desliguei e comuniquei ao Pinho a resposta. Fora os sindicatos, a oposição, os jornalistas do costume e alguns clientes habituais do Fórum TSF, toda a gente entenderia o que ele queria dizer.
Ao ouvir isto, o Manuel Pinho ficou muito contente. Parecia que lhe tinha tirado um grande peso de cima dos ombros. Devorou o resto do pequeno-almoço e falou todo o tempo, com extrema alegria. O resto é História. Hoje, toda a gente conhece as vantagens competitivas que temos a oferecer. Quer na China quer em Portugal quer, espero bem, vários empresários que estavam a preparar-se para deslocalizar as suas empresas para o Sri Lanka e para o Uganda. Valeu mais do que não sei quantas campanhas do ICEP a falar da convergência estratégica entre Belém e São Bento.
*José Nero Fontão, directa ou indirectamente, é responsável por 0.00014% das exportações portuguesas
Etiquetas: Zé Nero