segunda-feira, janeiro 22, 2007

História de algibeira (15)

(...)Começa ali Paço d'Arcos, patria do patrão Joaquim Lopes.
É a praia de mais movimento da linha de Cascaes. Não quer isso dizer que seja a mais bonita. Mas os gostos não se discutem...
Estende-se a sua casaria desigual, do forte da Giribita á Escola de Torpedos, e nesse comprimento se desenrolam três prais distinctas.
A de leste é uma praiasita pacata, onde mergulha um resumido numero de pessoas. A do meio é uma praia de high-life, para raros apenas. A de oeste é a praia geral, onde se vê Paço d'Arcos em maillot ás riscas, a tomar o seu banho, de manhã cedo.
Uma vista de olhos...
A Lilis dão gritinhos dentro do liquido elemento e fogem dos Lulus que lhe atiram agua para os olhos. Um leão recita Soares de Passos a uma banhista, de alpercatas e largnon.
Ali, o Brito cobre de pavor o rostinho da Nunes, fingindo que se afoga.. Aqui são as filhas do commendador, que saem altivas da barraca, na imponencia de quem traz na barriga a commenda do papá... Mais além é um grupo que combina um pic-nic, dois namorados que se arrufam, uma velha que critica as creadas..E aqui perto, dois paes de familia dizem que os ordenados não lhes chegam, enquanto as filhas, no banho, se entregam a um flirt aquatico com os filhos do primo de um visconde arruinado.
(...)
Pouco adiante d'elles, a velha e sempre renovada Cascaes, lança-lhes o seu lorgnon historico, de fidalga de poucos haveres e muitos avós.
Assim como Pedrouços é a praia classica do Commercio, paço d'Arcos a da Burocracia, e os Estoris as da Burguezia, Cascaes é a praia do High-Life.
Podem inventar outras praias, elegantisal-as, metter-lhes progresso, luz electrica, sport, luxo. Nenhuma consegue supplantar Cascaes - em títulos.
Quem tem titulo, tem casa alugada em Cascaes. Pode ir de visita ás outras praias. Outubro passa-o, infalivelmente, em Cascaes.
Cascaes é o baluarte do high-life que se banha:
Não póde mesmo entrar no livro de oiro da elegancia patria quem não se encafuar durante um mez nas viellas tortuosas de Cascaes, quem não nadar de costas ou de agulha diante da sua minguada língua de areia, vestido de malha, quem não passear na amostra de alameda, que se pendura soba as muralhas da Cidadella, e dá pelo nome de Passeio Maria Pia, vestido de touriste, quem não vir entrar o mar na Bocca do Inferno, vestido de yathsman, quem não jogar o tennis nas lindas courtes do Sporting-Club, vestido de flanella, ou não apontar cinco tostões aos 33, na rolêta do Casino, vestido de baile!...
Cascaes não é para elles o sitio onde vão procurar oxygenio para o sangue e goso para os sentidos. Cascaes é o seu ponto.
Não vão lá. Têem que lá ir.
Porque só a idéa de que o vermelho pavilhão real poderia estar içado na Cidadella, sem que elles estivessem em Cascaes, os faz estremecer de horror!
...Que diria Sua Majestade, se passasse a guiar o seu phaeton e os não visse na estrada da Guia curvados até ao chão?!...
Credo!... (continua).
Brasil em Portugal, 1901

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